Quantas vezes houve um hung parliament?.Por hung parliament entende-se a ausência de um partido com maioria absoluta. Nas 20 eleições disputadas desde o final da Segunda Guerra Mundial esta é apenas a segunda vez que tal se verifica. A primeira aconteceu em fevereiro de 1974, quando os trabalhistas de Harold Wilson ficaram a 17 deputados da maioria. Sem possibilidade de formar uma coligação estável, o país voltou às urnas em outubro do mesmo ano, dando a vitória ao Labour. A segunda vez deu-se em 2010. Tendo ficado a 20 lugares da maioria, o conservador David Cameron viu-se obrigado a coligar-se com Nick Clegg, dos Lib Dem. A legislatura foi até ao fim..Que coligação poderá haver desta vez?.A primeira-ministra Theresa May já anunciou que irá formar um governo minoritário e trabalhar em conjunto e com o apoio parlamentar do Partido Unionista Democrático da Irlanda do Norte (DUP). Os 318 deputados dos tories somados aos 10 do DUP permitem ultrapassar a barreira dos 326 lugares necessários para a maioria no Parlamento britânico..Que futuro para Theresa May?.As taxas de aprovação da primeira-ministra afundaram-se e, escreve o The Telegraph, no Partido Conservador já há quem vá afiando as facas para desferir o golpe em May. Por agora o mais provável é que a líder do partido continue a governar, mas tudo pode mudar, principalmente se as negociações com a UE derem sinais de fracasso. O favorito das casas de apostas para suceder a May é o ministro dos Negócios Estrangeiros, Boris Johnson. Phillip Hammond, responsável pela pasta das Finanças, também surge bem colocado..E agora, Jeremy Corbyn?.Em abril, quando May decidiu ir para eleições, o futuro político do líder trabalhista parecia ter os dias contados. Mas, contra todas as previsões, Corbyn saiu das urnas como um dos vencedores e numa espécie de estado de graça, tendo calado grande parte da contestação interna. Ainda assim, se a legislatura chegar ao fim, Corbyn terá 73 anos quando os britânicos voltarem a votar em 2022. Talvez já possa ser demasiado tarde..Que consequências para as negociações do brexit?.Theresa May queria reforçar o mandato e a legitimidade para negociar com Bruxelas. O tiro saiu-lhe pela culatra. Por muitas voltas que a primeira-ministra dê ao discurso é inegável que quando se sentar à mesa com a União Europeia estará numa posição mais frágil do que gostaria e do que tinha até agora. Será mais difícil para os britânicos fazerem braço de ferro com Bruxelas. Internamente as vozes que defendem um soft brexit, mantendo a ligação ao mercado único, ganharam força..Eleições representam uma vitória do bipartidarismo?.Em larga medida, sim. Se olharmos para as eleições anteriores, os independentistas do UKIP, que em 2015 tinham conseguido 12,7% (3,8 milhões de votos), praticamente desapareceram, tendo obtido apenas 0,5% (166 mil votos). Em 2010, os Lib Dem, com 23%, conseguiram 57 lugares. Desta vez, a força liderada por Tim Farron, apesar de ter subido três deputados em comparação com 2015, não foi além de 7,4% em termos de voto nacional. A erosão destas duas forças, que se apresentam como antissistema, significa pelo menos que o bloco central, constituído pelos tradicionais Partido Conservador e Partido Trabalhistas, está de boa saúde. Alguns analistas defendem que Jeremy Corbyn, também ele antissistema, é o responsável pela aparente resiliência do bipartidarismo do sistema político britânico..Nacionalistas escoceses e da Irlanda do Norte mais fracos?.Sim. Nicola Sturgeon, líder do SNP, que vinha lutando por um segundo referendo sobre a independência, perdeu 21 lugares e com isso grande parte da legitimidade que tinha para seguir por esse caminho. Na Irlanda do Norte, com o DUP em aliança com os tories, será difícil para os republicanos irlandeses do Sinn Féin terem margem de manobra..É possível um novo referendo sobre a ligação à UE?.O The Guardian entende que sim, que o novo Parlamento - no final das negociações com Bruxelas -, principalmente se o acordo ficar aquém das expectativas, poderá ver-se obrigado a pedir à população que volte a dizer de sua justiça. Certo é que a nova conjuntura tornará um hard brexit mais difícil politicamente..Chegou o fim da linha para o UKIP?.Ainda é difícil dizer, mas o cenário não é nada bom. Depois do referendo que deu a vitória ao brexit, seria sempre complicado para os independentistas encontrarem uma razão para a sua existência política. Essa constatação foi mais do que confirmada pelo desastroso resultado eleitoral e pela demissão do líder, Paul Nuttall. Mas, ainda que sem qualquer lugar no Parlamento britânico, o UKIP continua com representação no Parlamento Europeu, depois de ter elegido 24 nas últimas europeias. A incerteza relativamente ao brexit depois do fracasso de May nas eleições poderá funcionar como um balão de oxigénio para o partido.