General russo à frente da Interpol alarma defensores dos direitos humanos
Os delegados da Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) estão reunidos no Dubai em assembleia geral com o objetivo de escolher um novo presidente. Nada de mais, não se desse o caso de o anterior, o chinês Meng Hongwei, ter desaparecido durante dias até Pequim ter confirmado que o tinha detido por suspeitas de corrupção. E o favorito ser alguém que abriu uma nova frente de conflito entre a Rússia e o Ocidente.
Os sinais de alarme foram acionados quando o jornal britânico The Times adiantou no domingo que o atual vice-presidente da Interpol, o russo Alexander Prokopchuk, é o favorito para a votação desta quarta-feira.
O general de 56 anos vai trabalhar "exclusivamente no interesse da comunidade policial internacional", reagiu na terça-feira o Ministério do Interior da Rússia, tendo classificado as reações hostis à sua candidatura de "politização inadmissível".
O cargo de presidente da Interpol é "essencialmente honorífico", como lembrou há dias o homem que de facto é o seu chefe: o secretário-geral Jürgen Stock. No entanto, vários críticos de Vladimir Putin saíram a terreiro demonstrar a sua preocupação de que o russo, uma vez na presidência, possa tornar a organização numa ferramenta ao serviço do Kremlin.
Em poucas palavras: "Não há razão para acreditar que o Kremlin não iria expandir seu abuso do sistema Difusão Vermelha [mandados de captura internacionais] para silenciar os críticos internacionais assim que o seu candidato assuma o controlo da organização", escreveu no The Star o canadiano Marcus Kolga. O perito em direitos humanos recorda que a legislação russa "restringe de forma cruel várias formas de liberdade de expressão e permite ao Kremlin processar os prevaricadores quer na Rússia quer no estrangeiro".
Kolga lembra também como o empresário William Browder (que chegou a ser o maior investidor na Rússia) tem feito frente a Vladimir Putin e como este tem tentado silenciá-lo. O advogado russo de Browder, Sergei Magnitsky foi morto na prisão, em 2009, meses depois de ter denunciado a Browder que este estava a ser vítima de uma fraude milionária.
Desde então Browder tem liderado uma campanha contra o círculo de poder de Putin e a favor dos direitos humanos. Em maio, a polícia espanhola deteve Browder, em resultado da difusão de um alerta da Interpol. E na segunda-feira, os russos acusaram Browder de ter assassinado Magnitsky.
"No total, a Rússia tentou usar a Interpol sete vezes para me prender. Se existe um caso para a Rússia nunca ter qualquer autoridade na Interpol, eu sou esse caso", escreveu Browder no Washington Post.
O empresário e ativista revelou que está a trabalhar com advogados e outras vítimas para suspender a Rússia de utilizar o sistema de difusão da Interpol.
Também o opositor russo Alexey Navalny mostrou-se contra a possibilidade de Prokopchuk ser o próximo presidente da organização. "A nossa equipa tem sofrido com os abusos da Interpol pela perseguição política na Rússia. Não creio que um presidente da Rússia vá ajudar a reduzir essas violações", escreveu no Twitter.
De Bruxelas, ouviu-se o líder dos liberais Guy Verhofstadt: "A Rússia tem feito consistentemente um uso indevido da Interpol para perseguir os seus opositores políticos. Se o abusador-em-chefe Prokopchuk chegar ao controlo, os países democráticos e livres talvez precisem de desenvolver uma organização paralela. Tempos preocupantes para a ordem internacional", escreveu no Twitter.
Depois de um grupo de senadores democratas e republicanos terem acusado a Rússia de quererem explorar a Interpol para perseguirem dissidentes e críticos, o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo revelou que os Estados Unidos vão apoiar a a candidatura do candidato da Coreia do Sul, Kim Jong Yang, o presidente interino.
"Encorajamos todas as nações e organizações que fazem parte da Interpol e que respeitam o Estado de direito a escolher um líder de credibilidade e integridade (...). Acreditamos que o Sr. Kim será esse líder", disse Pompeo.
Horas antes, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acusou os senadores norte-americanos de tentativa de interferência nas eleições. "Isto é provavelmente um tipo de interferência no processo eleitoral de uma organização internacional", disse.