EUA compram quase toda a produção mundial de Remdesivir

A administração de Donald Trump adquiriu mais de 500 mil doses do medicamento contra a covid-19, o que significa toda a produção mundial de julho e quase a totalidade referente a agosto e setembro.
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Os EUA adquiriam quase todo o stock mundial de Remdesivir para os próximos três meses à farmacêutica Gilead Sciences, "um negócio incrível", disse o secretário de Estado norte-americano da Saúde. Trata-se do primeiro medicamento contra a covid-19 que foi aprovado nos EUA, tendo sido já recomendado pela Agência Europeia de Medicamentos. Um fármaco que está a ser utilizado em Portugal em doentes graves de covid-19.

A administração de Donald Trump comprou mais de 500 mil doses do fármaco, o que representa toda a produção mundial do medicamento de julho e 90% de agosto e setembro.

Isto significa que os restantes países do mundo não vão ter possibilidade de comprar o Remdesivir, produzido pela farmacêutica norte-americana Gilead Sciences, nos próximos três meses quando os stock nacionais esgotarem.

"O presidente Trump conseguiu um negócio incrível ao garantir que os americanos tenham acesso à primeira terapêutica autorizada para a covid-19", disse Alex Azar, secretário de estado norte-americano da Saúde.

Esta compra revela que os EUA "têm acesso à maior parte do fornecimento do medicamento, então não resta nada para a Europa", disse Andrew Hill, investigador da Universidade de Liverpool, ao jornal The Guardian.

Aliás, segundo o jornal britânico, o stock de 140 mil doses de Remdesivir produzido pela Gilead e utilizado em ensaios clínicos está prestes a esgotar-se.

"Este é o primeiro grande medicamento aprovado e onde está o mecanismo de acesso?" questionou Hill. "Mais uma vez, estamos no fim da fila", lamentou o investigador.

Estudo demonstra que Remdesivir acelera processo de recuperação dos doentes covid-19

A aquisição do fármaco foi anunciada na segunda-feira pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos, referiu o Departamento de Saúde dos Estados Unidos (HHS, sigla em inglês), como consequência de um acordo que permite "grandes fornecimentos de Remdesivir para os Estados Unidos até setembro".

"Na medida do possível, queremos garantir que qualquer paciente americano que precise de Remdesivir possa obtê-lo. A administração Trump está a fazer tudo o que é possível para aprender mais sobre a terapêutica que salva vidas e garantir o acesso a essas opções ao povo americano", referiu o secretário de Estado da Saúde, Alex Azar.

O anúncio desta aquisição de Remdesivir por parte dos EUA acontece numa altura em que a pandemia não dá sinais de abrandar, com Califórnia, Texas, Arizona e Florida a representarem metade dos novos casos.

Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas, disse mesmo, esta terça-feira, na audiência do Senado, que os EUA não estão com o "controlo total" da pandemia.

A taxa diária de infeção "pode facilmente chegar a 100 mil casos por dia se não revertermos a tendência", afirmou Fauci, que faz parte da task force da Casa Branca no combate à pandemia. Acrescentou que "não ficaria surpreso" se visse uma taxa tão alta de infeção. "Vai ser muito perturbador, garanto-vos."

Atualmente, os casos diários de covid-19 nos EUA estão na casa dos 40 mil por dia. Há, pelo menos, 126.000 mortes e mais de 2,59 milhões de contágios. "Estamos a ir na direção errada", disse Fauci.

O acordo de compra do Remdesivir pela administração surge após ser conhecido o preço que a farmacêutica norte-americana estipulou para o medicamento.

A Gilead Sciences revelou que vai cobrar 2.340 dólares (cerca de 2.082 euros) pelo tratamento de cinco dias, sendo que um frasco de Remdesivir vai ser vendido a 390 dólares (cerca de 347 euros) aos governos dos países desenvolvidos, segundo o comunicado da empresa, citado pela agência Bloomberg.

De acordo com a Gilead Sciences, o tratamento com este medicamento irá permitir uma poupança de 12 mil dólares por doente (cerca de 10.690 euros), uma vez que possibilita aos pacientes terem alta hospitalar mais cedo. Um estudo publicado no The New England Journal of Medicine demonstra que os doentes que foram tratados com este fármaco conseguiram recuperar quatro dias mais rápido do que os outros casos graves de covid-19.

A farmacêutica norte-americana refere, no entanto, que fixou um preço mais baixo para que todos os países desenvolvidos possam ter "acesso amplo e equitativo" ao Remdesivir, "num momento de necessidade global urgente".

Para adquirirem o medicamento os governos dos EUA e de outros países desenvolvidos têm de pagar cerca de 347 euros por cada frasco do antiviral, sendo que o tratamento de cinco dias implica a utilização de seis frascos, o que representa um custo total de 2.082 euros por paciente.

Os valores mudam quando se trata de empresas privadas norte-americanas. Para estas entidades, cada frasco de Remdesivir vai custar 520 dólares (cerca de 462 euros) e o tratamento de cinco dias ficará por 3.120 dólares por doente (cerca de 2.777 euros).

Este medicamento antiviral contra a covid-19 já é usado em Portugal, tal como explicou a diretora-geral da Saúde na passada sexta-feira, dia 26 de junho. Na conferência de imprensa sobre a evolução da pandemia no nosso país, Graça Freitas indicou que os hospitais ativaram o programa de acesso precoce e têm usado o Remdesivir "para doentes graves".

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