Estado Islâmico na Líbia com Al Andalus na mira

Portugal e Espanha têm sido mencionados na propaganda do grupo islamita. Instabilidade política no território líbio tem favorecido penetração de terroristas.
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O Estado Islâmico (EI) tem na mira a Península Ibérica, segundo informações das forças de segurança espanholas divulgadas ontem pelo diário El Mundo, e poderia realizar esses ataques a partir da Líbia, onde este grupo sunita extremista tem procurado reforçar a sua influência.

Não é a primeira vez que os serviços de informações europeus chamam a atenção para este cenário e o próprio grupo tem referido na sua propaganda a Península Ibérica, que designa pela expressão medieval muçulmana de Al Andalus, quando quase todo este território esteve sob domínio do islão.

Há mais de um ano, o EI pôs na internet um mapa com uma série de territórios que pretendia ocupar até 2020 e nele surgia a Península Ibérica e, mais recentemente, foi divulgado um vídeo em que se garantia que "os muçulmanos voltarão a povoar Córdoba, Toledo" e outras cidades, concluindo-se que "Al Andalus não é espanhol ou português, é o Al Andalus muçulmano".

A possibilidade de ataques do grupo islamita assume particular relevância no quadro de importantes derrotas sofridas na Síria e no Iraque, onde nos últimos meses perdeu mais de 30% do território sob seu controlo.

Base

Recentemente, um antigo combatente do EI, citado pelo The Independent, garantia que há mais de um ano o grupo começara a criar estruturas na Líbia, não só para operar neste país como para utilizá-lo enquanto base para ataques noutros pontos da região. A possibilidade de islamitas chegarem a território europeu nas embarcações clandestinas que partem de solo líbio não é de afastar. Ainda que a grande maioria dessas embarcações procurem chegar a Itália, algumas delas têm sido intercetadas em águas territoriais espanholas.

O El Mundo escreve que as forças de segurança espanholas consideram estar-se perante um cenário de "risco" e que aquelas estão a atuar tendo presente este aspeto. Isto não significa que as ameaças do EI - que repete as feitas no passado pela Al-Qaeda - sejam inquestionáveis. Se o fossem, "estaríamos perante situações de alto risco", afirma ao quotidiano fonte dos serviços de informações espanhóis. "Há que contextualizar", explica a mesma fonte, notando que os meios do grupo islamita são também limitados.

O valor simbólico da Península Ibérica para a propaganda de grupos islamitas radicais assenta no facto de ter sido uma das raras regiões a ter estado séculos sob governo muçulmano - nomeadamente entre os séculos VIII e XV - e perdida para controlo de Estados não islâmicos.

Noutro plano, a instabilidade política que persiste na Líbia torna este país um ponto propício para a instalação e desenvolvimento de centros operacionais de grupos como o EI. Realidade a que se deve somar a conjuntura militar na Síria e no Iraque. Com os revezes sofridos, o EI está obrigado não só ao recrudescimento da propaganda e, necessariamente, em tom extremo, como à diversificação de operações noutros teatros, como se viu nos atentados de Paris e Bruxelas, para demonstrar que continua a ter poder de iniciativa.

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