Em Estrasburgo. David Sassoli cancela sessão do Parlamento Europeu
"De acordo com os conselhos atualizados que recebi do Serviço Médico do Parlamento às 18h de hoje [esta quinta-feira, 5 de março], a situação relacionada com a disseminação da doença infecciosa causada pelo novo coronavírus (covid-19) evoluiu nos últimos dias e horas. Os novos aglomerados de infeções têm sido confirmados e o número de casos está a aumentar em várias regiões da União Europeia", pode ler-se numa nota interna do Parlamento Europeu assinada por David Sassoli, lida pelo DN.
Note-se que este responsável já tinha acionado medidas preventivas excecionais desde 2 de março para permitir "o desempenho das principais funções do Parlamento nas suas instalações", tendo na altura cancelado as visitas de pessoal externo à instituição.
O Parlamento Europeu recebe em média cerca de 700 mil visitantes por ano. Durante as próximas três semanas, serão cancelados 130 eventos nas instalações do Parlamento, em que deveriam participar entre 6000 a 7000 participantes.
Agora reconhece que as deslocações "para o período de sessões do Parlamento em Estrasburgo envolveriam riscos para a saúde significativamente mais altos para os deputados e funcionários, bem como a população local".
"Decidi, portanto, que, como medida de segurança (...) que as sessões da próxima semana serão excecionalmente realizadas em Bruxelas", explica o presidente na sua nota interna, em que pede a compreensão e a atuação "com responsabilidade" de cada um dos membros, funcionários, assistentes e pessoal do Parlamento Europeu.
"Conto com todos e cada um de vocês para agir com responsabilidade, como têm feito até agora", diz David Sassoli, tendo em conta que até esta quinta-feira, só uma vez, em 2008, tinham sido canceladas as deslocações a Estrasburgo, nessa vez por estarem a ser realizadas obras na sede do Parlamento Europeu.
Na quarta-feira ficou a saber-se que há dois membros do pessoal das instituições europeias contaminados com o novo coronavirus. Antes de adoecer, uma destas pessoas infetadas estava a trabalhar no "Secretariado-Geral do Conselho", que tem como funções, por exemplo, a assistência ao presidente do Conselho ou a coordenação dos trabalhos para as reuniões cimeiras em que participam, os chefes de Estado ou de governo da União Europeia, entre os quais, o primeiro-ministro António Costa.
Uma fonte oficial do Conselho Europeu confirmou ao DN a existência deste caso, assegurando que estão a ser tomadas "as medidas necessárias para limitar os riscos de transmissão da covid-19 a terceiros", nomeadamente através da "identificação das pessoas" com quem este funcionário "esteve em contacto próximo no local de trabalho nos quatro dias antes do início dos sintomas". Saliente-se que nesta instituição trabalham 116 portugueses.
"Quando essas pessoas estiverem identificadas, o Serviço Médico acompanhará e avaliará os riscos individuais e fornecerá orientação e instruções adequadas", referiu a fonte contactada.
Durante a manhã de quarta-feira, tinha sido identificado um primeiro caso de coronavirus, entre os funcionários das instituições europeias. Neste caso, um funcionário da recém-criada Agência Europeia de Defesa, a quem foi detetada uma infeção com o novo coronavírus.
O homem "está atualmente em casa, em isolamento, desde que os sintomas apareceram na noite de sábado (29 de fevereiro", refere um comunicado deste organismo da UE, em que assegura que "o indivíduo relatou sintomas muito leves e não retornou à agência desde então".
"Já foi feita uma desinfeção do escritório e das instalações de reunião relevantes do funcionário em questão", refere a nota da agência sediada em Bruxelas, onde funciona um dos hospitais de referência do país, para o encaminhamento e tratamento dos doentes graves de coronavírus.
As autoridades sanitárias, na Bélgica anunciaram esta quinta-feira 27 novos casos de coronavírus, detetados durante a madrugada, que vem juntar-se aos 23 que tinham sido identificados até ontem. Somam-se 50 doentes, identificados.
"Esperamos que este número continue a aumentar", admitiu o ministério da Saúde da Bélgica, em comunicado.
Esta quinta-feira, a directora do centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças admitiu que o número de mortes e de infetados não está totalmente contabilizado nos registos oficiais.
Numa teleconferência, a partir da sede do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, em Estocolmo, a directora desta agência da União Europeia, Andrea Ammon, assume que os dados oficiais não refletem a realidade, no que diz respeito ao número de casos contabilizados.
"Quando se diz que o número de infetados é maior do que o relatado, [isso] é tão válido para esta doença, como para outras, em particular para aquelas em que a maioria das pessoas doentes tem sintomas muito leves e podem não ir ao médico", assume a responsável, numa sessão sobre o coronavírus, com a comissão de Saúde do Parlamento Europeu.
A diretora afirmou que o centro de Prevenção e Controlo de Doenças tem um protocolo que deve ser aplicado de forma comum a todos os Estados da União Europeia, para melhorar os registos do número de infetados. Porém, admite que o próprio sistema de deteção, através de testes em laboratório, precisa de ser melhorado, de tornar eficaz a despistagem do vírus.
"Estamos a discutir, no âmbito da vigilância, com as autoridades dos estados-membros, para ampliar o espetro dos testes e, basicamente, usar o sistema, que cada estado membro possui para a vigilância do vírus influenza [da gripe normal], também para este novo vírus", disse.
Já em relação o número de mortes por infeção do novo coronavírus, Andrea Ammon também assumiu que os números podem ser inferiores à realidade da doença.
"As taxas de mortalidade de casos foram bem diferentes quando se olha pela primeira vez no meio e na última fase do surto. Então acho que precisamos ter muito cuidado em extrapolar números, mas isso é certo. Teremos mais casos do que os relatados", assumiu
Para demonstrar o grau de propagação do vírus, Andrea Ammon citou o exemplo de Itália, onde no dia 21 de fevereiro, foram registados os primeiros quatro casos. Sendo que duas semanas depois, o número de infetados ultrapassa os 2500.
Entre as instituições que também estão a fazer restrições preventivas, para proteger os seus funcionários do coronavírus, é o Banco Central Europeu, com sede em Frankfurt, na Alemanha, tendo cancelado reuniões e deslocações não essenciais, pelo menos "até 20 de Abril".