"É preciso fazer política, que é o que Rajoy não fez"

Jordi Solé, eurodeputado da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que faz parte da coligação independentista Junts pel Sí, é também autarca de Caldes de Montbui e está na "lista negra" dos que a justiça quer ouvir por não travarem o referendo. É, porém, o único, dos 712, que goza de imunidade parlamentar, razão pela qual ainda não foi chamado. Ao DN fala do cenário pós-consulta.
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Para o independentismo, o que pode ser considerado uma vitória no domingo?

Não vou pôr números à vitória. Mas se houver muita gente a tentar votar, de maneira pacífica, cívica, isto já foi uma vitória. A derrota do Estado espanhol será se houver forças policiais a tentar evitar que as pessoas votem. Porque isto é uma imagem que, a nível mundial, não reforça as credenciais democráticas do Estado espanhol, pelo contrário.

Que legitimidade há numa votação quando não se sabe se haverá urnas, quem vai contar os votos...

Toda a legitimidade do mundo, porque em democracia o facto de votar é perfeitamente legítimo. O que não se entende é que votar seja ilegal, que é o que diz o governo espanhol. Se o referendo de domingo não decorre nas melhores circunstâncias, isso não é culpa do governo catalão, mas de um governo espanhol que tem vindo a perseguir urnas, deter membros do governo, criar um ambiente de medo entre a população.

E o que vai acontecer no dia 2?

É difícil fazer previsões. Mas isto não acaba no dia 2, sabemos que é um processo que vai continuar. Preci- samos que a mobilização continue, que a defesa da democracia e dos direitos humanos continue, porque depois vem um trabalho muito importante e complicado: implementar o resultado.

Está em cima da mesa a declaração unilateral de independência?

Agora a prioridade é o referendo, que decorra sob as máximas garantias possíveis e se respeite o resultado. A lei prevê que se ganhar o "sim" haverá uma declaração de independência no Parlamento da Catalunha, apoiada pelos resultados democráticos do referendo.

Logo no dia 2 de outubro?

A lei diz que será nas 48 horas a seguir aos resultados definitivos, mas isso não quer dizer que seja na terça-feira, porque os resultados definitivos demorarão ainda alguns dias.

O presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, disse que depois se abre um processo de debate com Madrid. Mas se até agora não houve debate, que garantias há que vá haver depois?

O governo espanhol terá muito mais pressão para negociar, porque ninguém quer uma situação instável, porque há muitos interesses em jogo, não só catalães, espanhóis, e porque teremos usado uma ferramenta democrática para saber onde está a maioria. Se é no "sim", estaremos legitimados para aplicar o resultado, que é construir a independência. Se é no "não", respeitaremos o resultado e haverá eleições normais ao Parlamento catalão.

Da parte da União Europeia tem havido silêncio. Esperam que depois algo possa mudar?

Será cada vez mais difícil à Comissão Europeia manter que este é um problema interno espanhol, porque estão em jogo valores fundamentais da UE. Esta atitude repressiva incomoda muito na Europa, e se o governo espanhol continuar assim, acredito que será pressionado no sentido de encontrar uma saída política. É preciso negociar, dialogar. É preciso fazer política, e isso é o que o sr. Rajoy não fez nos últimos anos.

É impossível o diálogo com Rajoy?

Rajoy esteve por detrás da recolha dos quatro milhões de assinaturas contra o estatuto da Catalunha, utilizando argumentos e sentimentos anticatalães. Quem fez isto, tão irresponsavelmente, não pode tentar encontrar uma solução política. Mas também não vemos alternativa, porque PSOE e Ciudadanos disseram claramente que estão a apoiar a sua estratégia repressiva. É difícil ver uma alternativa a curto prazo.

Há divisões no independentismo?

Chegar aqui não foi fácil, houve dificuldades no caminho, esteve a ponto de descarrilar várias vezes. Mas agora estamos num momento de grande unidade, que espero que continue.

Enviada a Barcelona

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