Para o independentismo, o que pode ser considerado uma vitória no domingo? .Não vou pôr números à vitória. Mas se houver muita gente a tentar votar, de maneira pacífica, cívica, isto já foi uma vitória. A derrota do Estado espanhol será se houver forças policiais a tentar evitar que as pessoas votem. Porque isto é uma imagem que, a nível mundial, não reforça as credenciais democráticas do Estado espanhol, pelo contrário..Que legitimidade há numa votação quando não se sabe se haverá urnas, quem vai contar os votos....Toda a legitimidade do mundo, porque em democracia o facto de votar é perfeitamente legítimo. O que não se entende é que votar seja ilegal, que é o que diz o governo espanhol. Se o referendo de domingo não decorre nas melhores circunstâncias, isso não é culpa do governo catalão, mas de um governo espanhol que tem vindo a perseguir urnas, deter membros do governo, criar um ambiente de medo entre a população..E o que vai acontecer no dia 2? .É difícil fazer previsões. Mas isto não acaba no dia 2, sabemos que é um processo que vai continuar. Preci- samos que a mobilização continue, que a defesa da democracia e dos direitos humanos continue, porque depois vem um trabalho muito importante e complicado: implementar o resultado..Está em cima da mesa a declaração unilateral de independência? .Agora a prioridade é o referendo, que decorra sob as máximas garantias possíveis e se respeite o resultado. A lei prevê que se ganhar o "sim" haverá uma declaração de independência no Parlamento da Catalunha, apoiada pelos resultados democráticos do referendo..Logo no dia 2 de outubro? .A lei diz que será nas 48 horas a seguir aos resultados definitivos, mas isso não quer dizer que seja na terça-feira, porque os resultados definitivos demorarão ainda alguns dias..O presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, disse que depois se abre um processo de debate com Madrid. Mas se até agora não houve debate, que garantias há que vá haver depois?.O governo espanhol terá muito mais pressão para negociar, porque ninguém quer uma situação instável, porque há muitos interesses em jogo, não só catalães, espanhóis, e porque teremos usado uma ferramenta democrática para saber onde está a maioria. Se é no "sim", estaremos legitimados para aplicar o resultado, que é construir a independência. Se é no "não", respeitaremos o resultado e haverá eleições normais ao Parlamento catalão..Da parte da União Europeia tem havido silêncio. Esperam que depois algo possa mudar? .Será cada vez mais difícil à Comissão Europeia manter que este é um problema interno espanhol, porque estão em jogo valores fundamentais da UE. Esta atitude repressiva incomoda muito na Europa, e se o governo espanhol continuar assim, acredito que será pressionado no sentido de encontrar uma saída política. É preciso negociar, dialogar. É preciso fazer política, e isso é o que o sr. Rajoy não fez nos últimos anos..É impossível o diálogo com Rajoy? .Rajoy esteve por detrás da recolha dos quatro milhões de assinaturas contra o estatuto da Catalunha, utilizando argumentos e sentimentos anticatalães. Quem fez isto, tão irresponsavelmente, não pode tentar encontrar uma solução política. Mas também não vemos alternativa, porque PSOE e Ciudadanos disseram claramente que estão a apoiar a sua estratégia repressiva. É difícil ver uma alternativa a curto prazo..Há divisões no independentismo? .Chegar aqui não foi fácil, houve dificuldades no caminho, esteve a ponto de descarrilar várias vezes. Mas agora estamos num momento de grande unidade, que espero que continue..Enviada a Barcelona