Do "vai com calma, miúda" a Joe 30330: o debate de Biden contra todos
Favorito em todas as sondagens, Joe Biden já sabia que ia ser o principal alvo de todos os ataques quando subiu ao palco da CNN em Detroit para a segunda mão do segundo debate entre candidatos à nomeação do Partido Democrata para as presidenciais americanas de 2020. E todos estavam à espera do segundo round do seu frente-a-frente com a senadora da Califórnia Kamala Harris, sua principal oponente no primeiro debate em finais de junho.
"Vai com calma, miúda", lançou por isso Biden quando cumprimentou a rival antes do início do debate a dez (outros dez candidatos enfrentaram-se na primeira mão). Rodeado por adversários mais jovens e mais diversos - três mulheres, dois negros, um latino, um asiático - Biden conseguiu provar que não é apenas uma relíquia do partido e que, apesar dos 76 anos, ainda tem energia para enfrentar Donald Trump em novembro de 2020.
Apesar do apelo de Biden, o debate abriu com uma espécie de remake do confronto entre o ex-vice-presidente e Kamala Harris. Desta vez, o ataque da senadora não se centrou na questão racial e no trabalho de Biden com um grupo de segregacionistas quando era senador mas sim na reforma da saúde. Harris defendeu o seu plano de Medicare para todos, que apresentou esta semana, deve ser implementado num prazo de dez anos e mantém um papel para os privados, ao contrário, por exemplo, das propostas de candidatos mais radicais, como os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, estrelas da primeira mão do debate.
"Sempre que alguém vos diz que tem um plano bom para daqui a dez anos, deviam interrogar-se porque vai demorar dez anos", questionou Biden, sublinhando que não é assim que Harris vai conseguir derrotar Trump. A senadora respondeu acusando Biden de não estar a ser rigoroso. E lembrou que o plano do ex-vice-presidente para a reforma da saúde deixaria dez milhões de americanos sem seguro."Em 2019 na América, um democrata candidatar-se sem ter um plano que dê cobertura de saúde para todos é inaceitável", explicou.
Desta vez, a própria Harris esteve sob fogo dos rivais devido à sua atuação como procuradora-geral da Califórnia. A congressista do Havai Tulsi Gabbard lembrou que "ela colocou 1500 pessoas na prisão por consumo de marijuana mas depois riu-se quando lhe perguntaram se ela própria já tinha fumado marijuana".
O que se seguiu foi um debate em que os ataques se tornaram muito pessoais, em temas como a imigração, o ambiente e a questão racial. Sempre com Biden e o seu passado na mira.
Descendente de mexicanos, Julián Castro, o ex-secretário da Habitação de Obama, defendeu a ideia de fronteiras abertas, acusando alguns dos rivais de apoiar propostas da direita. Biden acusou o toque e recordou que quando fazia parte da Administração, nunca o ouviu defender a descriminalização da imigração ilegal. "Parece que alguns de nós aprenderam com os erros do passado, outros não", respondeu Castro.
Ausente do palco, Obama esteve muito presente na discussão, com o senador de New Jersey Cory Bookler a criticar alguns aspetos mais controversos da presidência anterior. Mas foi de novo o passado de Biden a ser discutido. Com Booker a lembrar as leis dos anos 70 que o então senador aprovou e que Booker acusa de discriminar os afro-americanos. Biden respondeu lembrando os problemas de corrupção na polícia de New Jersey, quando era mayor.
A escolha aleatória da CNN colocou em palco:
O ex-vice-presidente Joe Biden
A senadora da Califórnia Kamala Harris
O senador de New Jersey Cory Booker
O ex-secretário da Habitação Julián Castro
A senadora de Nova Iorque Kirsten Gillibrand
O mayor de Nova Iorque Bill de Blasio
A congressista do Havai Tulsi Gabbard
O senador do Colorado Michael Bennet
O governador de Washington Jay Inslee
O empresário Andrew Yang
Um dos momentos mais estranhos da noite aconteceu quando Biden pediu aos espectadores para irem ao seu site Joe 30330. "Se concordam comigo, vão a Joe 30330 e ajudem-me nesta luta", lançou o ex-vice-presidente. Um apelo legítimo, não fosse o facto de este não ser o site da sua campanha. O seu site oficial é joebiden.com.
No final do debate, a campanha de Biden explicou que o candidato queria dizer para os eleitores mandarem um SMS com a palavra "Joe" para o número 30330. Em resposta receberiam uma mensagem a apelar para doarem dinheiro para a sua campanha.
Esta foi a última oportunidade para alguns dos candidatos brilharem. O próximo debate entre candidatos democratas está previsto para setembro e neste momento só dez cumprem os requisitos para estarem presentes, o principal é ter mais de 2% em pelo menos quatro sondagens consecutivas.
Nessa altura deverá tornar-se mais claro quem estará na reta final para ser o adversário de Donald Trump nas presidenciais de 2020.