Croácia e Bósnia revoltadas com absolvição de Seselj

Uma semana depois de Karadzic ter sido condenado a 40 anos de prisão, ultranacionalista sérvio foi ontem absolvido em Haia revoltados com uma decisão que classificam como "vergonhosa"

Inocente. Foi este o veredicto do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia no caso do ultranacionalista Vojislav Seselj. O ex-vice-primeiro-ministro da Sérvia e ainda líder do Partido Radical Sérvio foi absolvido de todas as acusações - três por crimes contra a humanidade e seis por crimes de guerra. Seselj, que não esteve presente em Haia para ouvir o veredicto - em 2014 foi autorizado a regressar à Sérvia para tratar um cancro do cólon -, é a partir de agora um homem livre.

De acordo com Jean-Claude Antonetti - o presidente do coletivo de três juízes que votou, dois contra um em favor da absolvição -, a acusação não conseguiu provar uma relação de causalidade entre os discursos nacionalistas de Vojislav Seselj e os crimes cometidos na Bósnia e na Croácia na primeira metade dos anos 90. Antonetti sublinhou ainda que Seselj não tinha qualquer tipo de responsabilidade hierárquica sobre os voluntários que ajudou a recrutar para as milícias paramilitares e para o exército sérvio.

Ainda que tenha chegado a proferir frases como "nenhum ustasha deve sair vivo de Vukovar", os juízes concluíram que nem sequer este discurso era prova de incitamento ao crime. Segundo o tribunal, as declarações do Seselj, feitas "num contexto de conflito", destinavam-se a "aumentar o moral das tropas" e não tinham como objetivo "convencer os militares a matar toda a gente".

Numa conferência de imprensa em Belgrado, Vojislav Seselj aplaudiu a decisão do tribunal. "Desta vez, depois de muitos julgamentos que acabaram com a condenação de sérvios inocentes, tivemos dois juízes justos, honrados e profissionais, que mostraram ser imunes a pressões políticas, mesmo tendo em conta que se trata de um tribunal anti-sérvio. Este era o único veredicto possível. Sempre tive a certeza de que seria impossível provar que eu tivesse cometido um único crime", afirmou o ex-aliado político de Slobodan Milosevic, o presidente sérvio nos anos do conflito.

Quem não gostou do desfecho do julgamento foi Tihomir Oreskovic, atual primeiro-ministro croata, que classificou o veredicto como "vergonhoso". Também o seu homólogo bósnio, Denis Zvizdic, se mostrou incrédulo e indignado. "Não consigo entender que se absolva alguém que participou na planificação de tudo o que aconteceu durante a agressão sobre a Bósnia e Herzegovina", lamentou o político.

A acusação ainda não esclareceu se vai recorrer do veredicto.

A absolvição de Seselj acontece uma semana depois de o tribunal ter condenado Radovan Karadzic - ex-líder da comunidade sérvia na Bósnia - a 40 anos de prisão por crimes de guerra e genocídio.

Um estudante brilhante

Vojislav Seselj nasceu em 1954, em Sarajevo, então parte da Jugoslávia comunista liderada pelo Marechal Tito. Considerado um estudante brilhante, doutorou-se em Direito e tornou-se um dos mais jovens professores assistentes na Faculdade de Sarajevo.

Foi já nos anos 80 que os acontecimentos políticos no país acabaram por desviá-lo do percurso académico. Tito morreu em 1980 e, a partir desse momento, um pouco por toda a Jugoslávia, começaram a crescer tensões nacionalistas.

Seselj seria preso em 1984 por críticas dirigidas ao Partido Comunista e por defender o conceito da Grande Sérvia. Condenado a sete anos de prisão cumpriria apenas dois. De novo em liberdade, mudou-se para Belgrado e, no início dos anos 90, fundou o Partido Radical Sérvio.

Durante a guerra na Croácia e na Bósnia, promoveu a formação de uma milícia paramilitar conhecida como Os Homens de Seselj.

Em 2003 entregou-se ao tribunal de Haia para responder pelos crimes de que estava acusado. O julgamento começou em 2007 e terminou ontem. Com a absolvição.

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