Suécia fez diferente. E foi mau na saúde e mau na economia

Até agora, as perdas humanas e económicas indiciam que a abordagem não foi a melhor.
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Em Helsingborg, sul da Suécia, existe uma original coleção de objetos e de invenções que se revelaram um desastre. O próprio criador do museu, Samuel West, declarou falência, estando a coleção agora no Museu Dunkers. Se as políticas públicas pudessem ser expostas naquela coleção, iria a estratégia sueca relativa à pandemia do novo coronavírus fazer parte das fileiras do centro de artes? Neste momento é uma candidata.

Poucas restrições

O Governo deixou a cargo dos cidadãos a responsabilidade pela sua saúde. Não impôs um confinamento à população, antes apelou às pessoas para que aplicassem o distanciamento social, um comportamento não muito difícil de seguir num país com baixa densidade populacional e cuja cultura valoriza o individualismo e a autodisciplina.

Restaurantes, bares, ginásios, lojas e cabeleireiros mantiveram-se em atividade.

Ainda assim, foram proibidos ajuntamentos com mais do que 50 pessoas e as escolas secundárias (mais de 16 anos) e as universidades transitaram para o ensino à distância.

"As pessoas devem sair, fazer exercício, apanhar ar fresco. É bom para a sua saúde física e mental", defendia há um mês o diretor da Agência de Saúde Pública, Johan Carlson.

Alta mortalidade

A consequência negativa mais óbvia é o número de mortos atingido pelo novo coronavírus: 3998 até domingo. Com uma população comparável à portuguesa, tem mais 2682 óbitos. Em número de mortos por milhão de habitantes, Portugal regista 129, a Suécia 396.

Em comparação com os países vizinhos o cenário é pior: a Dinamarca regista 562 mortos (97 por milhão), a Finlândia 307 (55 por milhão) e a Noruega 235 (43 por milhão).

O epidemiologista sueco Johan Giesecke acredita, porém, que no final a taxa de mortalidade da covid-19 será similar à de uma estirpe agressiva de gripe.

Economia ao fundo

A defesa da economia e do emprego tem sido uma das bandeiras na defesa desta abordagem. No entanto, na economia globalizada a Suécia não consegue ser uma ilha.

Na quarta-feira, o banco central sueco manteve as previsões realizadas em abril. No primeiro cenário, o produto interno bruto (PIB) poderá contrair 6,9% em 2020, antes de voltar a crescer 4,6% em 2021. Numa previsão mais negativa, prevê que o PIB poderá contrair 9,7% e a recuperação mais lenta, crescendo apenas 1,7% em 2021.

No primeiro cenário, o Riksbank previu que o desemprego poderá atingir 8,8% em 2020, contra os 7,2% atuais, e, no pior dos casos, a previsão poderá atingir 10,1%.

A ajudar a um cenário mais negativo está a relutância dos países vizinhos em abrir as fronteiras à Suécia. Oslo, Copenhaga e Helsínquia não se mostram muito interessados na reabertura aos suecos devido ao elevado número de casos ativos.

Imunidade de grupo?

Anders Tegnell, epidemiologista chefe da Agência de Saúde Pública, mantém a sua linha, tendo defendido a abertura das fronteiras dos outros nórdicos porque a Suécia está mais avançada na curva da infeção. "Quando chegarmos ao verão, pode acontecer que tenhamos tantas pessoas na Suécia que são imunes que poderá ser mais seguro para os suecos irem para lá [países vizinhos] do que outros", afirmou.

Tegnell baseia-se no pressuposto de que a exposição ao vírus concede imunidade contra a reinfeção. Vários estudos sugerem que as pessoas que foram infetadas têm alguns anticorpos que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, provavelmente, "proporcionam algum nível de proteção". Mas ainda não há provas de que fiquem completamente imunes, ou por quanto tempo.

O epidemiologista defende também que, ao permitir que os jovens saudáveis fiquem infetados e recuperem, o país ficará mais bem protegido se ou quando uma segunda vaga ocorrer. E dessa forma será mais fácil chegar à imunidade de grupo, que se alcança quando 60% a 70% da população teve o vírus e desenvolve anticorpos.

Na quarta-feira, Tegnell disse acreditar que uma em cada cinco pessoas em Estocolmo tenha desenvolvido anticorpos contra o vírus. Um estudo da Agência de Saúde Pública revelou que 7,3% de uma amostra de 1104 pessoas selecionadas aleatoriamente em Estocolmo - a região mais afetada da Suécia - tinham anticorpos quando foram testadas na última semana de abril.

Questionado sobre o estudo, o epidemiologista chefe disse acreditar que até à data "um pouco mais de 20%" das pessoas tinha provavelmente contraído o vírus em Estocolmo, onde mais de um terço dos casos confirmados da Suécia foram registados.

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