Chuva de demissões no governo-sombra trabalhista
Hoje é dia de sangria no Partido Trabalhista britânico. Depois de Jeremy Corbyn ter demitido Hilary Benn, ministro-sombra dos Negócios Estrangeiros, outros membros de um possível futuro executivo apresentaram a sua demissão ao líder do Labour.
Hilary Benn revelou que telefonou a Corbyn para comunicar-lhe que entre os deputados do partido existe uma convicção crescente de que os trabalhistas não serão capazes de ganhar as próximas legislativas com a atual liderança. "Disse-lhe que tinha perdido a confiança nele para liderar o partido e ele demitiu-me do governo-sombra", afirmou o ex-responsável pelos Negócios Estrangeiros numa entrevista à BBC.
Não tardou muito tempo até que a ministra sombra da Saúde apresentasse a sua demissão. "É com o coração pesado que lhe escrevo para comunicar-lhe que me demito do governo-sombra", escreveu Heidi Alexander numa carta aberta.
Outros membros do governo-sombra de Corbyn seguiram-lhe o exemplo: Gloria de Piero (Igualdade), Ian Murray (Escócia), Lillian Greenwood (Transportes) e Lucy Powell (Educação). Espera-se que mais venham a fazê-lo durante as próximas horas.
Apesar da sangria e da contestação, um porta-voz do gabinete de Corbyn veio reafirmar que o líder não irá apresentar a demissão, tal como o próprio ontem tinha garantido.
Resta agora saber se sobreviverá à moção de censura, apresentada por duas deputadas, que deverá ser discutida amanhã e eventualmente votada na terça.
"A menos que mudemos de líder, não seremos capazes de ganhar as próximas eleições. O resultado do referendo foi um desastre e a liderança tem de assumir as suas responsabilidades. Foi uma campanha sem brilho e sem convicção, sem uma mensagem forte. Quando o próprio líder se mostra ambíguo e dividido não é surpreendente que os eleitores também fiquei indecisos", disse Ann Coffey, uma das duas deputadas que apresentaram a moção de censura.
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Corbyn foi eleito líder do Partido Trabalhista em setembro do ano passado com 59,5% dos votos. Em segundo, com apenas 19%, ficou Andy Burnham.
Ainda que até agora ninguém se tenha chegado à frente para assumir-se como alternativa à liderança dos trabalhistas, há alguns nomes que já circulam nos bastidores e que as casas de apostas confirmam como mais prováveis. Um deles é Tom Watson, deputado e líder adjunto do partido. Hilary Benn, apesar de o próprio ter dito que não está na corrida, é outras das hipóteses ventiladas. O agora ex-ministro sombra dos Negócios Estrangeiros é um velho aliado do ex-líder Gordon Brown e ganhou visibilidade depois de ter feito um apaixonado discurso sobre a necessidade de ataques aéreos na Síria. Chuka Umunna, candidato na última corrida à liderança que não chegou a ir a votos, e David Miliband, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros e irmão do anterior líder Ed Miliband, são outros dois nomes que podem aparecer em cena.