Carmena: a vizinha de Madrid que gere a capital de Espanha

Num encontro com a imprensa estrangeira, a alcaldesa saúda o papel das mulheres na gestão local e lamenta que não haja rostos femininos a mandar nos partidos a nível nacional
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Manuela Carmena sente-se mais uma vizinha de Madrid com a diferença que é ela quem gere os assuntos da capital espanhola. É assim que gosta de falar dela a presidente da Câmara Municipal (Ayuntamiento) de Madrid, cargo que ocupa desde 13 de junho de 2015. "Falo com as pessoas na rua, troco ideias, às vezes anoto o contacto telefónico delas e ligo de volta para esclarecer os assuntos que foram abordados", explica Manuela num encontro com a imprensa estrangeira.

Nascida em Madrid em 1944, Carmena quer que a sua cidade natal ganhe mais protagonismo como capital europeia e que seja modelo de cidade aberta sustentável e diversa. A sua ideia é que cada um dos 21 distritos da capital tenha "algo que visitar", quer dar-lhes personalidade própria. Mas sabe que mesmo sendo a segunda capital europeia em crescimento (segundo dados da PwC), o nível de desemprego é ainda muito preocupante.

O seu cargo dá-lhe um palanque privilegiado sobre a política espanhola e a autarca considera que quando o discurso político é um ato teatral "não tem correspondência com a realidade". Carmena acredita que Espanha está a viver um desenvolvimento eruptivo da democracia e "este processo está a romper as medidas estabelecidas, a sociedade espanhola rejeita o discurso vazio". A alcaldesa, que chegou ao poder apoiada pelo Podemos, prefere não falar da crise de outros partidos e deixa claro que acredita numa nova política que deve ir por outros caminhos que não sejam os partidos tradicionais.

Para ela, as mulheres têm um papel relevante na gestão local porque "preocupa-nos mais os valores que a luta de poderes" e justifica assim o facto de não haver rostos femininos a mandar nas grandes forças políticas do país. Defende o bom entendimento entre mulheres e sente o seu apoio "desde as diretoras de grandes empresas, com quem tenho muita sintonia, às que encontro no metro". Conhecida é a sua boa relação com a presidente da Comunidade de Madrid, Cristina Cifuentes, do PP. "Temos estilos diferentes mas sabemos que temos que nos entender e acima das políticas estão as pessoas e defendemos a cultura das mulheres", sublinha Carmena.

A autarca tem na sua equipa pessoas muito novas, algumas procedentes do movimento dos indignados - o 15-M. "Foi um acontecimento importante mas eu não sou do 15-M", esclarece Manuela. "Este movimento questionou a forma de fazer política e insistiu na participação da cidadania", sublinha. A sua equipa de governo conta com pessoas "novas e sem experiência em cargos públicos, é verdade. Vinham da política de bairros. São boa gente e muito inteligente. Todos precisam de tempo para se adaptar ao sistema", afirma Carmena. Esclarece que quando trabalha "centro-me nas características das pessoas, procuro equipas e afasto-me da parte ideológica".

Balanço de governo

Mais de um ano depois de chegar ao cargo, Manuela Carmena gosta de falar do consenso que existe a nível local entre as várias correntes políticas. "Conseguimos tramitar o trabalho da Câmara com a ajuda de outros partidos. 86% dos acordos tiveram apoios de fora e no caso do planeamento urbanístico, o PP concordou connosco 80% das vezes".

Entre os seus maiores sucessos está a redução da dívida de Madrid em mais de mil milhões de euros em pouco mais de um ano de governo, o que representa uma descida de 19,5%. Em junho deste ano a dívida era de 4563 milhões de euros. "Temos mais lucros que despesas e além disso temos um fundo de reserva que não mexemos", sublinha a presidente da Câmara de Madrid. O governo local acabou 2015 com um superavit de 511 milhões frente aos 217 milhões do ano anterior. A equipa de Carmena decidiu usar parte do dinheiro para um pacote de investimentos durante 2016.

Os seus planos para Madrid passam por conseguir uma cidade mais sustentável, com a redução do tráfico automóvel e o fomento do uso da bicicleta. "Eu sempre que posso vou a pé aos lugares ou de metro", diz. Mas tem noção que ainda há caminho a percorrer e espera que a conclusão das obras na Linha 1 do metro ajude a cumprir os seus objetivos. Carmena quer ainda atrair capital estrangeiro para Madrid. Com a vitória do brexit no referendo de 23 de junho no Reino Unido, "começamos a reunir-mos com entidades que podiam estar interessadas em investir com a ideia de agilizar os trâmites". Mas agora, segundo conselhos de especialistas, "Madrid deve ser o centro financeiro hispano-americano e hispano-africano".

Entre os seus últimos projetos está a recuperação da rádio local, "criada por Tierno Galván e que deixaram de utilizar". O objetivo de recuperar esta ferramenta de comunicação "que sempre esteve lá, com orçamento e pessoas contratadas" não é outro que "difundir e informar todas as atividades que fazemos".

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