O Brexit é uma "perda de tempo e de energia", lamenta Juncker
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, lamentou esta terça-feira o "demasiado" tempo que dedicou ao Brexit durante o longo do seu mandato. "Na verdade, foi doloroso", considerou.
Na última sessão plenária de Estrasburgo em que participa como líder do executivo comunitário Jean-Claude Juncker afirmou que a União Europeia "pode fazer melhor" pelos europeus, mas garantiu que o Brexit foi uma perda de tempo.
"Na verdade, foi doloroso ter dedicado demasiado deste mandato a lidar com o Brexit, quando eu pensei em nada menos do que esta União pode fazer melhor pelos seus cidadãos. Foi uma perda de tempo e de energia", afirmou.
Na mesmas sessão, o presidente do Conselho Europeu anunciou que já deu início às consultas com os governos europeus para que sejam decididos os próximos passos em relação ao Brexit, depois de o governo de Londres ter pedido a extensão do prazo para a saída, que terminaria a 31 deste mês, na sequência de uma emenda aprovada no Parlamento de Londres que obrigada adiou a votação do acordo assinado entre o primeiro-ministro Boris Johnson e os 27.
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"A situação é muito complexa, depois dos acontecimentos durante o fim de semana, no Reino Unido, e o pedido de extensão do procedimento do artigo 50", afirmou Donald Tusk, adiantando que já está "a consultar os lideres sobre a forma de reagir", e promete apresentar uma decisão "nos próximos dias".
"A situação é muito complexa, depois dos acontecimentos durante o fim de semana, no Reino Unido, e o pedido de extensão do procedimento do artigo 50"
"É obvio que o resultado destas consultas dependerá muito do que o parlamento britânico decidir, ou não decidir", disse o presidente do Conselho Europeu, confirmando, como o DN escreveu no sábado, que não era esperado que a autorização para a extensão do artigo cinquenta fosse imediata. Porém, a União Europeia "não deverá criar entraves". Espera-se que o mais tardar até ao próximo fim de semana haja uma decisão em Bruxelas.
O presidente do Conselho Europeu avisou que tudo está em aberto, numa situação complexa e que se agravou, desde o fim de semana. Tusk avisa que toda a União Europeia deve estar preparada para o que quer que venha a acontecer.
"Devemos estar preparados para todos os cenários. Mas uma coisa deve estar clara, como já disse ao primeiro-ministro britânico, o Brexit sem acordo não será por nossa decisão", vincou Donald Tusk.

O ainda presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk
© EPA/PATRICK SEEGER
Estrasburgo fica com a última palavra
Ambos os presidentes saudaram a decisão do Parlamento Europeu de guardar para si a última palavra sobre o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia.
"Não é possível imaginar que este Parlamento [Europeu] ratifique o acordo antes que Westminster o ratifique primeiro em Londres", afirmou Juncker, considerando que agora é preciso "acompanhar ao que acontecer em Westminster de muito perto".
"Fizemos tudo ao nosso alcance para preparar a União Europeia para todas as eventualidades, independentemente do que está a acontecer do outro lado do canal", afirmou.
"Fizemos tudo ao nosso alcance para preparar a União Europeia para todas as eventualidades, independentemente do que está a acontecer do outro lado do canal"
Antes do arranque da sessão plenária de Estrasburgo, o grupo coordenador do Brexit esteve reunido com os presidentes dos grupos políticos, e decidiu que vai esperar pelo voto da câmara dos comuns, para tomar uma decisão. Essa votação pode realizar-se numa sessão extraordinária na próxima semana.
Ouvido pelo DN, o vice-presidente do parlamento, membro do grupo coordenador do Brexit, Pedro Silva Pereira admite que a extensão de três meses, pedida por Londres não seja suficiente.
"Se na Câmara dos Comuns for deliberado que vai ser realizado um referendo, é possível que esse prazo não seja suficiente", admitiu Pedro Silva Pereira, considerando que "se for deliberado fazer eleições, é preciso ver as consequências disso no procedimento negocial", sobre o período de extensão.
"O prazo vai depender muito também daquilo que for decidido no Reino Unido", disse o deputado, frisando que "é por isso que o Conselho Europeu tendo registado o pedido de adiamento, por parte do Reino Unido, não deliberou ainda, porque deliberar significa também confirmar se um prazo até 31 de janeiro é suficiente ou não".
O deputado afirma que Estrasburgo não prescinde de ter a última palavra sobre o acordo, pois "do lado europeu, toda a gente quer perceber primeiro qual é a posição final do Reino Unido, quanto a esta proposta de acordo antes de poder decidir alguma coisa seja sobre a extensão, seja sobre a ratificação aqui no Parlamento Europeu".
Pedro Silva Pereira considera que como até aqui tudo depende do ritmo e do resultado da discussão em Londres, já que "qualquer alteração ao acordo, que venha a ser introduzida, na Câmara dos Comuns é uma alteração substantiva ao acordo e obriga a repensar os termos das soluções encontradas. E portanto qualquer alteração desse género evidentemente implica uma extensão".
"Se for preciso, o Parlamento Europeu está disponível para, na próxima quinta-feira, avaliar a situação e tomar decisões sobre isso e não excluímos a possibilidade da convocação extraordinária do plenário, para a próxima semana", disse o deputado, embora considera que "não está excluída uma extensão que dê mais tempo para que toda a avaliação que tem que ser feita ocorra".