Bolsonaro nomeia dono de empresa associada a fake news

Presidente brasileiro nomeou para a equipa de transição Mauro Aurélio Carvalho, cuja empresa está envolvida na polémica de divulgação de notícias falsas no WhatsApp.
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O Presidente brasileiro eleito nomeou para a sua equipa de transição um dos donos da AM4, a maior prestadora de serviços da sua candidatura, envolvida na polémica divulgação de fake news (informações falsas) em massa pelo WhatsApp.

Marcos Aurélio Carvalho é um dos 28 nomes que foram publicados na segunda-feira no Diário Oficial da União como membro da equipa de transição do novo governo de Jair Bolsonaro, sendo que 22 desses nomes foram indicados pela transição e cinco pelo governo de Michel Temer (atual Presidente do Brasil), por já serem funcionários públicos.

O salário de Marcos Carvalho será de 9.926,60 reais (cerca de dois mil euros) durante a transição governamental.

O empresário participou na reunião da equipa de transição realizada nesta segunda-feira, em Brasília, com os futuros ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Defesa, general Augusto Heleno, e da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, segundo o jornal Folha de São Paulo.

Carvalho explicou que vai "ajudar na comunicação" da equipa e enviou um comunicado à imprensa brasileira na qual afirmou que todas as ações da campanha de Bolsonaro foram "regulares".

A campanha de Bolsonaro apresentou, há uma semana, ao Tribunal Superior Eleitoral, um gasto adicional de 535 mil reais (cerca de 126 mil euros) com a AM4 Brasil Inteligência Digital, empresa em que Marcos Aurélio Carvalho é sócio.

Segundo os dados disponíveis até ao momento, este valor tornou a companhia como a maior prestadora de serviços da candidatura do capitão reformado e candidato da extrema-direita.

O gasto com a empresa soma 650 mil reais (cerca de 153 mil euros) na primeira e segunda voltas das eleições presidenciais

O candidato derrotado à Presidência do Brasil Fernando Haddad (do Partido dos Trabalhadores, da esquerda) denunciou no dia 18 de outubro um suposto esquema ilícito envolvendo o seu adversário Jair Bolsonaro e empresários que teriam patrocinado a divulgação de mensagens "mentirosas" pela rede social WhatsApp.

"Identificámos uma campanha de difamação no WhatsApp e, dada o volume de mensagens sabíamos que havia dinheiro sujo. Hoje [o jornal] Folha de São Paulo traz provas de que de facto houve a montagem de uma organização criminosa de empresários que via caixa 2 [dinheiro não declarado à Justiça eleitoral] promoveu esta campanha de difamação, tentando cometer fraude e acabar com a eleição na primeira volta", disse Haddad à imprensa brasileira, quando faltavam apenas dez dias para a segunda volta da eleição.

A prática é ilegal, pois trata-se de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada, de acordo com o jornal que denunciou o esquema.

A assessoria de imprensa da empresa AM4 afirmou ao jornal Folha que não contratou a suposta divulgação de conteúdos via WhatsApp e que o pagamento de 535 mil reais se deveu ao aumento do seu trabalho na segunda volta da corrida eleitoral, "quando o candidato [Bolsonaro] passou a ter tempo de rádio e televisão e a AM4 também passou a dirigir os filmes da campanha".

No entanto, no dia 26 de outubro, a AM4 admitiu ao site de notícias UOL que contratou serviços de divulgação de informação em massa (nas redes sociais), mas sem objetivos eleitorais.

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