Brasil: Sérgio Moro envia tropas federais para travar onda de violência no nordeste

Cerca de 300 homens e 30 patrulhas da Força Nacional de Segurança Pública já começaram a patrulhar as ruas de Fortaleza, varridas desde quarta-feira por ataques contra edifícios públicos e autocarros
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Jair Bolsonaro usou a luta contra o crime como uma das bandeiras da sua campanha, e poucos dias depois da sua tomada de posse como presidente do Brasil já teve oportunidade de a agitar. O governo brasileiro enviou tropas federais para o Estado do Ceará, que tem sido varrido desde o meio da última semana por uma onda de ataques violentos contra edifícios públicos, bombas de gasolina e autocarros. Cerca de 300 homens e 30 patrulhas da Força Nacional de Segurança Pública começaram já esta sábado à noite (no Estado do nordeste do Brasil são menos três horas do que em Lisboa) a patrulhar as ruas de Fortaleza, que viveu mais um dia de violência.

O mediático - e envolto em polémica pela sua nomeação - ministro da Justiça e Segurança Nacional, Sérgio Moro, anunciou em comunicado no final da semana que o reforço de segurança foi motivado "pelos episódios de violência e as dificuldades das forças locais para combater o crime organizado sem ajuda". Os ataques no Ceará que levaram ao envio de reforços foram registados entre a noite de quarta-feira e a madrugada deste sábado, em todos os municípios que fazem parte da região metropolitana da capital estadual, Fortaleza, e visavam principalmente autocarros, prédios públicos e até bancos.

Desde a última quarta-feira já foram contabilizados mais de 80 ataques nas cidades cearenses de Tinguá, Pacatuba, Horizonte, Maracanaú, Fortaleza, Caucaia, Pindoretama, Eusébio, Morada Nova, Jaguaruana, Canindé e Piquet Carneiro. As autoridades investigam se os ataques são uma represália das organizações criminosas contra medidas anunciadas pelo governador do Ceará, Camilo Santana, para reformar a administração das prisões estaduais. Analistas suspeitam que a violência pode ser uma resposta contra as declarações do novo secretário de Administração Penitenciária (SAP) do Ceará, Luís Mauro Albuquerque, que disse que irá endurecer regras nos presídios para combater fações criminosas neste estado brasileiro.

O Ceará foi o terceiro estado brasileiro que mais registou mortes mais violentas em 2017, com uma taxa de 59,1 mortes por cada 100.000 habitantes. Segundo informações divulgadas pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2017 aconteceram no país 63.880 mortes violentas.

Antes de autorizar o envio de tropas federais para Ceará, Sergio Moro já havia anunciado na quinta-feira que os agentes da Polícia Federal e do Departamento de Administração Penitenciária deste estado brasileiro receberam ordens para cooperar com as investigações aos ataques. O ministro também ofereceu cotas em prisões federais de segurança máxima para que o estado do Ceará possa enviar os prisioneiros mais perigosos atualmente nas prisões regionais.

Imunidade para polícias que matem criminosos

Ainda na última sexta-feira, o Presidente do Brasil exigiu uma atuação mais forte aos poderes legislativo e judiciário para combater a violência no país. "Sem garantias necessárias para os agentes de segurança pública agirem em prol do cidadão de bem, a diminuição dos crimes não vai ocorrer na velocidade que o brasileiro exige. Os poderes legislativo, executivo e judiciário têm que assumir este compromisso urgentemente", escreveu o Presidente, na rede social Twitter.

O posicionamento do chefe de Estado brasileiro reflete o seu apoio a um projeto polémico que consiste na aprovação de um dispositivo legal para dar imunidade a policias que matarem criminosos em serviço, que necessita de apoio do Congresso e de membros do judiciário para avançar. Além deste dispositivo, o Presidente brasileiro apoia o endurecimento do combate ao crime e regras mais permissivas para o porte de armas de fogo no país.

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