O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, quer evitar que o Brexit se arraste para lá do período de transição acordado com Bruxelas. Para isso, o líder conservador vai incluir uma cláusula na lei que regulamenta a saída do Reino Unido da União Europeia a proibir qualquer pedido de extensão para lá do final de 2020..Os críticos alertam para o risco de o Reino Unido sair sem um acordo de comércio nessa altura, com as relações a ficarem dependentes dos termos da Organização Mundial de Comércio. Mas o ministro Michael Gove, uma espécie de número dois de Boris, insistiu esta manhã que tanto Londres como Bruxelas "comprometeram-se a garantir que temos um acordo" no final de 2020..Durante a transição, os britânicos continuam a aplicar as regras europeias e e beneficiar delas. O acordo de divórcio previa que o período de transição pudesse ter adiado por um ou dois anos, caso Londres o pedisse até 1 de julho de 2020 e sempre mediante a luz verde de Bruxelas..Mas existe ceticismo sobre a possibilidade de chegar a acordo até lá. Um acordo comercial inclui tudo desde serviços financeiros até tarifas, regras de auxílio estatais e pesca, apesar de o alcance de um acordo futuro ainda estar em discussão. Só para comparação, o acordo entre União Europeia e o Canadá demorou sete anos a negociar -- e é nele que Boris Johnson se quer inspirar. .Boris Johnson tinha prometido na campanha eleitoral que não iria pedir uma extensão do período de transição, garantindo assim que o Partido do Brexit não iria disputar a corrida nas 317 circunscrições eleitorais que eram detidas então pelos conservadores.."Vocês ainda não viram nada", terá dito Boris Johnson no primeiro Conselho de Ministros após a vitória eleitoral, segundo a Sky News. "Os eleitores deste país mudaram este governo e o nosso partido para melhor e temos que retribuir a sua confiança trabalhando para mudar o nosso país para melhor", terá afirmado..O primeiro debate no Parlamento britânico sobre a lei que ratifica o Brexit será na sexta-feira. Os conservadores tiveram uma vitória alargada nas eleições da passada quinta-feira e têm uma maioria de 80 deputados em Westminster..Problemas na negociação.A União Europeia irá insistir em não assinar um acordo comercial com um gigante económico como o Reino Unido sem garantias jurídicas de concorrência justa. O principal negociador europeu, Michel Barnier, irá concentrar-se também nas normas ambientais e de trabalho, assim como ajudas estatais, para garantir que o Reino Unido não possa oferecer produtos no mercado único a preços injustamente baixos..O problema do Reino Unido, escreve a Reuters, é que estará sob pressão para aliviar as regras sobre padrões agrícolas e alimentares para assinar um acordo comercial bilateral com os EUA. Mas, diante disso, a UE restringiria o acesso ao seu mercado, para proteger os seus próprios produtos.."Dado todos os sinais, recomendamos levar a sério que o Reino Unido não pretende fazer uma extensão da transição e precisamos estar preparados para isso", disse a diretora-geral do departamento comercial da União Europeia, Sabine Weyand.."Isso significa que, nas negociações, temos que olhar para as questões em que a falta de um acordo até 2020 levaria a outra situação de beira do precipício", disse num seminário organizado em Bruxelas..Em reação ao anúncio, a libra caiu para um valor semelhante aos que eram visíveis antes das eleições, quando a maioria confortável dos conservadores resultou num aumento do valor da moeda britânica..Parlamento que é "uma grande melhoria em relação ao antecessor".Os deputados britânicos voltaram esta terça-feira aos trabalhos, com a reeleição de Lindsay Hoyle como speaker (líder da Câmara dos Comuns)..Num curto discurso, Boris Johnson disse que este Parlamento "é uma grande melhoria em relação ao seu antecessor", acrescentando que é um dos melhores que o país já produziu. Lembrou que há mais mulheres e mais membros de minorias. "É mais democrático", referiu..O primeiro-ministro disse que na sexta-feira os deputados vão aprovar a lei de saída da União Europeia e convidou o speaker a adivinhar o que o Parlamento vai fazer, para depois dizer em coro com os outros deputados conservadores: "will get Brexit done" (garantir que o Brexit é cumprido)..Boris Johnson, que tem uma maioria de 80 deputados, reiterou ainda que o governo fará tudo o que estiver ao seu alcance para estender a mão aos outros partidos e encontrar um terreno comum e curar as divisões do país. "A maioria dos honrados membros desta Câmara acreditam que deviamos resistir os apelos daqueles que querem desmembrar o Reino Unido e, como Parlamento do Reino Unido, devemos defender de forma educada e respeitosa essa parceria e essa união", defendeu o primeiro-ministro, numa semana em que a líder do Partido Nacionalista Escocês e chefe do governo da Escócia, Nicola Sturgeon, se prepara para apresentar os argumentos para um segundo referendo à independência..Falando depois, o líder da oposição, Jeremy Corbyn, congratulou Johnson pela vitória eleitoral e prestou homenagem aos deputados trabalhistas que perderam a eleição. Corbyn disse ainda que Johnson será julgado por cumprir as suas promessas e que o Labour responsabilizará o governo..E pede ao speaker para que se mantenha firme contra os abusos do executivo. "A democracia não é um dado adquirido. É algo que temos que defender e ampliar", disse Corbyn..(Notícia atualizada às 15.00 com o regresso do Parlamento aos trabalhos)