Boris Johnson ganha prémio de poema mais insultuoso para Erdogan

Versos foram improvisados durante uma entrevista a publicação suíça. E são "muito bons", diz o ex-mayor de Londres
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"Certamente que havia melhores poemas (...), alguns bem mais obscenos. Quanto a mim, penso que é espetacular um dirigente político britânico mostrar que este país não se curva perante o califa putativo que está em Ancara." Esta foi a justificação para a atribuição ao ex-mayor de Londres e antigo diretor da revista The Spectator, Boris Johnson, do prémio para o poema mais insultuoso para o presidente Recep Tayyip Erdogan lançado por esta publicação em resposta à decisão de um tribunal alemão de proibir a difusão de um poema do humorista Jan Boehmermann considerado insultuoso para o dirigente turco.

Ouça aqui o poema (a partir dos 2.50):

Segundo o juiz do concurso, o jornalista e autor político Douglas Murray, deram entrada "milhares" de textos, mas o do ex-mayor da capital britânica e uma das mais destacadas figuras da campanha pela saída do Reino Unido da União Europeia, reflete o espírito mais profundo da iniciativa. "Erdogan pode mandar os opositores para a prisão na Turquia. A chanceler Merkel pode prender os críticos de Erdogan na Alemanha. Mas, na Grã-Bretanha, ainda vivemos e respiramos em liberdade. Não precisamos que um qualquer potentado estrangeiro nos diga o que podemos pensar ou fazer. E não precisamos de nenhum juiz, especialmente se for alemão, a decidir por nós o que podemos achar com piada", escreveu Murray no site daquela revista britânica. E admitiu que a escolha "foi inteiramente anti-meritocrática", escrevendo ainda ter sugerido a Johnson que o valor do prémio, mil libras (1300 euros) oferecidas por um leitor, fosse doado para caridade.

O poema de Johnson, cujo bisavô era de origem turca, foi feito de improviso durante uma entrevista para a revista semanal suíça Die Weltwoche, publicada na sua mais recente edição, após desafio de um dos dois entrevistadores, Nicholas Farrell. Escrito com amplo recurso a calão urbano, nele se faz alusão a práticas sexuais contranatura e a atos onanistas. A publicação helvética reproduz na entrevista o original em inglês, com Farrell a classificá-lo como "muito bom" e Johnson a concordar.

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O antigo editor da The Spectator , conhecido como profundo conhecedor dos clássicos e autor de textos demolidores e sarcásticos, não deixando de ser percorridos por grande sentido de humor, admitiu-o na entrevista, dizendo que recorre "a todos os tipos de palavras", a obscenidades e afirmações socialmente impróprias.

Na passada terça-feira, um tribunal de Hamburgo decidiu que dos 24 versos do poema de Jan Boehmermann só seis poderiam continuar a ser reproduzidos. Os 18 versos continham, tal como os de Johnson, referências sexuais explícitas e referências obscenas.

Os advogados do presidente turco apresentaram duas ações junto da justiça alemã, uma a pedir a interdição da difusão do poema e outra junto da Procuradoria-Geral contra o humorista. Este segundo caso está ainda a ser analisado, tendo uma fonte judicial declarado na última terça-feira, quando foi conhecida a decisão do tribunal de Hamburgo, não existir ainda data para uma sentença. Para esta situação foi necessária a autorização do governo de Berlim para a investigação judicial, pois, segundo as leis alemãs, os insultos a dirigentes estrangeiros não estão interditos.

Em resposta crítica à decisão do governo de Angela Merkel de autorizar a investigação, um deputado do seu partido leu o poema de Boehmermann na passada semana no Bundestag.

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