Bocas-de-incêndio sem água e incompetência. O que falhou no combate ao fogo no museu?
Foram precisas horas para dominar incêndio que destruiu o Museu Nacional e um acervo recolhido em 200 anos. No rescaldo, comandante dos bombeiros e responsável pela museu trocam críticas. Mas degradação do palácio também era óbvia
O comandante-geral dos bombeiros do Rio de Janeiro queixou-se de falta de água nas bocas de incêndio à volta do Museu Nacional do Brasil, palco de um incêndio de grandes proporções nesta madrugada. "Tivemos dificuldades porque os hidrantes [bocas-de-incêndio] estavam sem carga", afirmou Roberto Robadey, citado pela Folha de São Paulo.
Sem as bocas-de-incêndio funcionais, o combate às chamas realizou-se com o apoio de camiões-cisterna e com o recurso à água do lago da Quinta da Boa Vista, local onde foi construído o Palácio de São Cristóvão.
Robadey lembrou que o museu não dispõe de qualquer equipamento contra incêndios. "É uma construção anterior à legislação e precisava de se adequar", afirmou o comandante dos bombeiros.
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Posição diferente tem o reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entidade que gere o Museu Nacional. Para Roberto Leher as proporções do desastre seriam menores se os bombeiros tivessem atuado de forma competente. "É óbvio que a forma de combate não guardou proporção com o tamanho do incêndio. Percebemos claramente que faltou logística e capacidade de infraestrutura do Corpo de Bombeiros que desse conta de um acontecimento tão devastador como foi esse", afirmou Leher.
Uma aluna contou que, como outros colegas e professores, tentou salvar parte do espólio, e confirmou a falta de meios adequados para o combate ao fogo.
Ao fim de seis horas, os bombeiros controlaram o incêndio que deflagrou no edifício que acolheu D. João VI.
O alcance dos danos ainda vai ser objeto de avaliação.
Segundo a Globo, foram encontradas cinzas de documentos a três quilómetros de distância.
Acervo de 20 milhões de peças
O incêndio no Museu Nacional, que se iniciou na noite de domingo e prosseguiu pela madrugada destruiu parte, destruiu um dos maiores acervos históricos e científicos do país, com cerca de 20 milhões de peças.
O museu foi fundado por D. João VI, em 1818. À época o principal objetivo do Museu Real era propagar o conhecimento e o estudo das ciências naturais em terras brasileiras.
Hoje, era reconhecido como um centro de pesquisa em história natural e antropológica na América Latina.
No entanto, a ausência de obras de manutenção e os cortes no financiamento deixaram o museu em grande decadência: era alvo de ataques de formigas e a instalação elétrica estava exposta, como uma reportagem da Folha de São Paulo dava conta em maio.