Ator porno, príncipe, palhaço e gay entre os eleitos

Nas eleições por trás da eleição principal, presidente e vice-presidente do Senado ficaram de fora, Aécio ganhou e Dilma perdeu, herdeiro da família real chegou ao parlamento, Roberto Leal desiludiu e homofóbico foi derrotado por homossexual
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Entre os milhares de candidatos aos milhares de cargos em jogo nas eleições brasileiras há vencedores improváveis e derrotados surpreendentes. A renovação política, na sequência da Operação Lava-Jato, resultou na eleição do ator pornográfico Alexandre Frota para o Congresso mas também do homossexual assumido Fabiano Contarato, que derrotou o cantor gospel homofóbico Magno Malta. Uma líder indígena dividirá espaço com um herdeiro da família real enquanto um punhado de velhos caciques da política brasileira diz adeus ao Congresso e fica, assim, à mão das investigações policiais de que são alvo.

Caciques que perdem

Os atuais presidente e vice-presidente do Senado, respetivamente Eunício de Oliveira, do MDB, e Cássio Cunha Lima, do PSDB, não se reelegeram. Romero Jucá, presidente do MDB e um dos principais conselheiros de Michel Temer também não. Outros caciques com décadas de presença parlamentar e influência nos respetivos feudos eleitorais, como Edison Lobão (MDB), ex-ministro ligado a José Sarney, e Garibaldi Alves (MDB) acabaram fora de Brasília. O resultado eleitoral não tem apenas consequências políticas para todos - tem efeitos policiais, uma vez que, ao perderem o foro privilegiado, estão agora à disposição dos juízes de primeira instância da Lava-Jato, operação em que são investigados.

E caciques que ganham

Em contrapartida, o investigado Renan Calheiros, do MDB, foi reeleito para o Senado, por Alagoas, além de ter visto o seu filho, Renan Filho, reeleger-se governador do estado. Aécio Neves, do PSDB, também terá um lugar na Câmara dos Deputados por Minas Gerais, ao terminar num anónimo 19º lugar de um colégio eleitoral que elege 53 parlamentares para a câmara baixa, e segue assim com foro privilegiado.

Estrelas do PT desiludem

Dois dos principais trunfos do PT, o veterano Eduardo Suplicy, em São Paulo, e a ex-presidente Dilma Rousseff, acabaram fora do Senado, depois de, segundo as sondagens, liderarem até à véspera da eleição. É o provável fim da linha da carreira política de ambos. No Rio de Janeiro, Lindbergh Farias, um dos militantes mais agitados do partido, também falhou a reeleição para o Senado.

Filhos de Bolsonaro em alta

Eduardo Bolsonaro, terceiro filho de Jair Bolsonaro, bateu o recorde de 16 anos do já falecido Enéas Carneiro, eleito deputado em 2002, ao obter 1,8 milhões de votos. O PSL, que elegera um deputado em São Paulo em 2014, conseguiu levar para Brasília nove candidatos desta vez. Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidenciável, ganhou a eleição no Rio de Janeiro para o Senado.

Ator porno e Tiririca eleitos

Rodrigo Amorim, o candidato a deputado que destruiu a placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, elegeu-se deputado estadual pelo PSL. Já o ator pornográfico Alexandre Frota, apoiante de primeira hora de Bolsonaro, será deputado mas da nação. A seu lado o palhaço Tiririca (PR), que em 2017 chegara a anunciar a retirada da política, agora em terceiro mandato. Candidata a um cargo de deputada estadual pelo PSL, Janaína Paschoal, a autora do texto do impeachment de Dilma Rousseff, bateu recorde de votação: dois milhões de votos.

Príncipe eleito, Roberto Leal de fora

A força de Bolsonaro, traduzida nos candidatos do seu partido, o PSL, ainda serviu para eleger para deputado federal um "príncipe", Luiz Phelippe de Orléans e Bragança, descendente da família real brasileira que chegou a ser cogitado como "vice" de Bolsonaro. Ratinho Junior, filho do apresentador de TV Ratinho, governará o Paraná, pelo PSD. E Bebeto, do SD, será deputado estadual no Rio de Janeiro, ao contrário de Romário, do Podemos, que perdeu a corrida ao governo do estado. Roberto Leal, por sua vez, falhou eleição como deputado estadual em São Paulo, pelo PTB.

Gay vence homofóbico

Um dos senadores mais conservadores do Brasil, Magno Malta, do PR, que esteve a um passo de ser candidato a vice-presidente de Jair Bolsonaro, ficou fora da câmara alta no Espírito Santo por causa da eleição surpreendente de Fábio Contarato, do Rede, homossexual, casado e com dois filhos. Entretanto, foi eleita para a Câmara dos Deputados a primeira mulher indígena da história, Joenia Wapichana, também do Rede. Em 1982, o indígena Mário Juruna chegara ao Congresso.

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