Arcebispo de Cantuária descobriu que, afinal, é filho de secretário pessoal de Churchill
"Eu encontro quem sou em Jesus Cristo, não na genética, a minha identidade nele nunca muda". Foi desta forma que o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, reagiu à notícia de que o seu pai biológico é afinal Anthony Montague Browne, secretário pessoal do antigo primeiro-ministro do Reino Unido Winston Churchill. Browne morreu a 1 de abril de 2013 aos 89 anos, 11 dias depois da consagração do filho como o novo líder espiritual da Igreja de Inglaterra (anglicana, chefiada pela rainha Isabel II). Atualmente com 60 anos, Justin decidiu fazer o teste de ADN depois de ter sido contactado pelo jornalista do 'Telegraph' Charles Moore. Este ouvira um boato e decidira investigar, tendo interpelado o arcebispo. Ao contrário do que se podia esperar, o líder religioso recebeu-o e aceitou esclarecer a história.
Tudo começou nos anos 1950, quando Browne e Jane Portal, a mãe de Justin Welby, se conheceram no gabinete de Churchill. Em 1955 Jane namorava Gavin Welby, um vendedor de whisky. Antes de casar com ele envolveu-se sexualmente com Browne. Daí resultou a conceção de Justin. Mas Jane, que casou nesse ano com Gavin, sempre achou que era ele o pai. Viriam a divorciar-se quando Justin tinha apenas dois anos. Ambos tinham sérios problemas de alcoolismo e isso deixou marcas no arcebispo. O próprio reconhece isso no comunicado que divulgou sexta-feira, assim que foi colocada online a investigação de Moore no 'Telegraph'."A minha mãe e o meu pai eram ambos alcoólicos. A minha mãe está em recuperação desde 1968 e não toca no álcool há 48 anos. Tenho enorme orgulho nela. O meu pai morreu em resultado do álcool e do tabaco em 1977 quando eu tinha 21 anos. Em resultado do vício dos meus pais, os primeiros anos da minha vida foram atribulados, embora tenha tido boa educação e sido cuidado pela minha avó, a minha mãe já depois de recuperada e o meu pai até quando foi capaz", escreve Justin no comunicado divulgado pelo Palácio do Lambeth, residência oficial do arcebispo.
No documento o líder anglicano constata com humildade: "A minha experiência é comum à de muitas outras pessoas. Descobrir que o verdadeiro pai é outra pessoa que não aquela que sempre conhecemos como tal não é invulgar. Ser uma criança nascida no seio de uma família com grandes dificuldades de relacionamento, com problemas de vícios e outros, é demasiado normal (...). A minha mãe está agora livre do álcool e tem um casamento feliz." Jane casou-se novamente, em 1975, com o banqueiro Charles Williams. A ele foi buscar o apelido e é hoje Jane Williams.
Mas a descoberta de que o seu pai biológico é Browne, não foi a primeira que o arcebispo fez. Mais uma vez através de uma investigação do The Telegraph, em 2012 Justin Welby ficou a saber que, antes de se casar com a sua mãe, Gavin casou nos EUA, em 1934, com Doris Sturzenegger, filha de um empresário fabril rico. Ao mesmo tempo foi amante da irmã de John F. Kennedy, Patricia, antes de regressar a território britânico durante a II Guerra Mundial. Só depois conheceu Jane, cujo apelido era então Portal.
Reagindo à revelação do resultado do teste de ADN, Jane disse ter tido "um casamento disfuncional" com Gavin Welby e que a notícia divulgada através do The Telegraph "é um choque inacreditável". Num comunicado, citado pela Reuters, a mãe do arcebispo disse ter uma memória muito vaga dos dias em que conviveu com Browne, mas reconheceu ter-se envolvido sexualmente com ele antes de se casar. Quanto às consequências que a notícia pode ter para Justin, casado, com Caroline, pai de seis filhos, as leis da Igreja de Inglaterra já permitem, desde os anos 1950, que um filho ilegítimo seja arcebispo, sublinha o The Independent. Por isso Justin Welby pode respirar de alívio e manter-se no cargo.