As autoridades de Montenegro autorizaram a construção de uma estância de luxo numa fortaleza onde funcionou um campo de concentração, uma decisão que indignou familiares de antigos prisioneiros.
Situado na ilha Mamula, no mar Adriático, na popular baía de Kotor, o forte, datado do século XIX, foi utilizado pelas forças fascistas italianas durante a Segunda Guerra Mundial e ali terão morrido dezenas de pessoas. Agora, este país dos Balcãs concedeu um empréstimo, a 49 anos, à empresa de capitais suíços e egípcios Orascom, que irá investir 15 milhões de euros para construir, naquele local, um hotel de luxo, com spa e marina.
"Tínhamos duas hipóteses: ou deixávamos aquele espaço em ruínas ou encontrávamos investidores dispostos a recuperá-lo e torná-lo acessível para visitantes", disse o responsável do turismo nacional, Olivera Brajovic, à agência noticiosa France-Presse.
Familiares de pessoas que estiveram presas em Mamula durante a guerra juntaram-se para se oporem ao projeto, que consideram inadequado face ao passado negro da ilha.
[artigo:4883280]
"Construir um hotel dedicado ao lazer num local onde tantas pessoas faleceram e sofreram é um exemplo gritante de falta de seriedade em relação à história", disse à agência AFP um dos contestatários do projeto, Olivera Doklestic.
A mulher, de 54 anos, que teve os seus pai, avô e tio presos em Mamula, considera que a fortaleza deveria ser recuperada e aberta a visitantes como um lugar histórico. "Nenhum campo de concentração no Mundo foi transformado num hotel", disse. De acordo com a associação de veteranos de guerra local, Mamula teve mais de dois mil prisioneiros, dos quais 80 foram executados e outros 50 morreram à fome, dadas as péssimas condições do local.
Brajovic referiu que os planos de conversão incluem um memorial aos antigos ocupantes. Fonte ligada à Orascom disse que os veteranos locais aprovaram o projeto, que inclui planos para conservar a fortaleza.
[artigo:4723393]