"Antigamente também se encobria abusos em casa"

Papa Francisco falou aos jornalistas no avião no final da sua viagem pelos países Bálticos
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"Vemos que nos anos 1970 havia muitos padres que caíram por causa da corrupção. Depois, em tempos mais recentes, isso diminuiu porque a Igreja deu-se conta de que tinha de lutar de outra forma. Antigamente as coisas eram encobertas. Mas também em casa, quando o tio abusava de uma sobrinha, quando um pai o fazia com os filhos. Encobria-se porque era uma vergonha muito grande. Era a forma de pensar em séculos passados", declarou o Papa Francisco, numa conversa que manteve no avião com os jornalistas após uma visita aos países Bálticos.

"É verdade que há uma acusação contra a Igreja, que todos conhecemos, conhecemos as estatísticas, embora não as diga. Mas mesmo que tivesse sido só um padre a abusar de uma criança isso é monstruoso. Esse homem foi eleito por Deus para levar as crianças ao céu, por isso compreendo que os jovens se escandalizem com essa corrupção. Sabemos que isto existe por todo o lado, mas na Igreja é mais escandaloso, porque deve levar as crianças até Deus, não destruí-las", afirmou ainda o líder da Igreja Católica, que nos últimos dias esteve na Lituânia, na Estónia e na Letónia.

Antes de regressar ao Vaticano, num encontro com jovens estónios, Francisco admitiu que os escândalos de abusos sexuais estão a afastar os fiéis católicos da Igreja. "Eles [os jovens] estão indignados com os escândalos sexuais e económicos que não são claramente condenados, com a nossa falta de preparação em apreciar a vidas e as sensibilidades dos jovens, e com o papel passivo que lhes atribuímos", disse o Papa a jovens católicos, luteranos e ortodoxos. Francisco disse ainda que a Igreja Católica quer responder a essas queixas de forma transparente e honesta.

As declarações do líder religioso surgiram no mesmo dia em que a conferência dos bispos alemães divulgou um relatório que revela que cerca de 3 677 pessoas - mais da metade delas com 13 anos ou menos - foram maltratadas pelo clero entre 1946 e 2014.

O relatório, compilado por investigadores universitários, encontrou provas de que alguns arquivos foram manipulados ou destruídos, muitos casos não foram levados à justiça e que, às vezes, os agressores eram simplesmente transferidos para outras dioceses sem que as congregações fossem informadas sobre seu passado.

O escândalo de abusos sexuais, que surgiu na Irlanda nos anos 1990 e subsequentemente na Austrália e nos EUA, agora ameaça o próprio pontificado de Francisco.

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