Africanos revoltam-se com "tratamento racista" na China
É mais uma voz no coro de protestos contra o racismo que os africanos negros têm sentido na China. Esta terça-feira a Nigéria condenou e classificou como "muito angustiante" e "inaceitável" os relatos de que cidadãos nigerianos na China foram maltratados por causa da pandemia do novo coronavírus. Esta condenação segue-se a outras como a da União Africana e outros países, com as autoridades da China a garantirem que o país não promove o racismo nem discrimina ninguém.
"Há vídeos a circular nas redes sociais de cenas muito perturbadoras e incidentes envolvendo nigerianos na cidade de Guangzhou", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros Geoffrey Onyeama durante uma reunião com o embaixador chinês Zhou Pingjian em Abuja, capital nigeriana.
Onyeama disse que parecia que os nigerianos estavam a ser discriminados em hotéis e restaurantes e estigmatizados como supostos portadores de Covid-19. "Vimos imagens de nigerianos nas ruas com os seus pertences e isso foi extremamente angustiante para nós", disse o ministro africano.
Acrescentou que a situação era "inaceitável" para o governo e o povo da Nigéria e era necessária uma "ação imediata" das autoridades chinesas.
Em resposta, o embaixador disse que Pequim está a levar as questões que o ministro levantou "muito a sério" e disse que a China continuará a promover laços cordiais com a Nigéria.
A conversa ocorreu após acusações de discriminação na cidade de Guangzhou, no sul, relacionadas com a pandemia de coronavírus.
Os africanos dizem que se tornaram alvos de suspeita e foram submetidos a despejos forçados, quarentenas arbitrárias e testes em massa de coronavírus, principalmente quando Pequim intensifica a sua luta contra infeções importadas.
A rede de fast-food americana McDonald's pediu desculpas por uma placa num de seus restaurantes em Guangzhou dizendo aos negros que estavam proibidos de entrar.
A empresa pediu desculpas e um porta-voz da McDonald's disse à AFP que a referida placa "não é representativa dos nossos valores inclusivos".
Em comunicado por email, a Mcdonald's disse que removeu a placa e fechou temporariamente o restaurante em Guangzhou "imediatamente após saber de uma comunicação não autorizada aos nossos clientes".
A União Africana expressou no sábado a sua "extrema preocupação" com a situação em Guanghzou e pediu a Pequim que tome medidas corretivas imediatas. A embaixadora da UA na China teve mesmo palavras duras e pediu a intervenção do presidente Xi Jinping.
No domingo, à medida que a pressão internacional aumentou, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim emitiu um comunicado dizendo que o país atribuía "grande importância à vida e à saúde de estrangeiros" e rejeitou todas as observações "racistas e discriminatórias".
Este comentário segue-se a críticas americanas. Os Estados Unidos denunciaram no sábado uma "xenofobia das autoridades chinesas em relação a africanos", que alegam ser vítimas de discriminação na cidade de Guangzhou. Vários africanos disseram à AFP que foram expulsos de suas casas e rejeitados em hotéis.
O abuso e maus tratos de africanos que vivem e trabalham na China lembram, infelizmente, como é fraca a parceria entre a República Popular da China e a África", disse à AFP um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA.
O tema está a ser levado muito a sério pelas autoridades chinesas, preocupadas com as reações em África, onde tem muitos interesses. Já há relatos de retaliação contra chineses em países africanos.