A história da família "perfeita" que mantinha os 13 filhos acorrentados e com fome em casa
O casal californiano acusado de manter os 13 filhos presos em casa, acorrentados e esfomeados, tentava passar a imagem de uma família feliz, falando calorosamente dos filhos em público e publicando fotos das meninas vestidas de cor-de-rosa ou dos filhos a sorrir com o Rato Mickey na Disneyland. Hoje, esta e outras fotos do casal a sorrir, enquanto renovava os votos matrimoniais, por exemplo, correm o mundo, enquanto as autoridades, família e vizinhos tentam perceber o que lhes escapou.
"Gostava de vos poder dizer que tenho informação que explica o que aconteceu", reconheceu Greg Fellows, do departamento de polícia de Riverside. Mas a história de David Turpin, um engenheiro de 57 anos, e da mulher Louise, dava poucas indicações sobre os horrores que a polícia encontraria na casa da família no Condado de Riverside, a leste de Los Angeles, asseguram membros da família e autoridades.
"Nós sempre pensámos que ela estava a viver a vida perfeita", disse a irmã de Louise Turpin, Teresa Robinette, à NBC News. "Ela dizia-nos que eles estavam sempre a ir à Disneyland. Eles iam a Las Vegas".
Os pais de David Turpin, James e Betty Turpin, da Virginia, disseram à ABC News que o filho era um engenheiro informático, formado na Virginia Tech. A família era profundamente religiosa e educava as crianças em casa, acrescentaram, exigindo que memorizassem longas passagens da Bíblia. Aliás, o endereço onde as crianças foram encontradas também estava registado no Departamento de Educação da Califórnia como o local de uma escola privada, com David Turpin listado como o diretor.
Turpin trabalhou como engenheiro na Lockheed Martin até 2010, confirmou a empresa, tendo-se juntado depois à Northrop Grumman, uma empresa no setor da aeronáutica e da defesa, no ano seguinte - na altura, a ganhar 140 mil dólares por ano. Terá sido nesse ano que a família declarou falência: os documentos apresentados ao tribunal indicam que a dívida total era superior a 240 mil dólares e que todos os meses tinham mais de mil dólares de despesas que se acumulavam. Ivan Trahan, o advogado que representou o casal, disse, no entanto, que falavam sempre muito bem dos filhos e que a família fazia muitas coisas em conjunto.
Também as autoridades da Califórnia e do Texas, onde a família viveu por algum tempo, disseram que não tinham registos de prisões prévias ou relatos de abuso infantil. Assim, quase nada fazia prever o cenário encontrado quando a polícia invadiu a casa em Perris no domingo, depois de uma chamada para o 911.
A chamada foi feita por uma das filhas do casal, uma rapariga de 17 anos, tão frágil que a polícia pensava que tinha apenas 10, que conseguiu escapar pela janela. Quando a polícia chegou, encontrou as crianças e jovens, com idades dos 2 aos 29 anos, amarrados às camas, disseram as autoridades. "Imaginem ter 17 anos e parecer ter 10, acorrentado a uma cama, malnutrido, e com lesões associadas", explicou Fellows.
Mas o casal esforçava-se tanto para manter a fachada, que a própria Louise, de 49 anos, parecia "perplexa", disse o agente do departamento do xerife do condado de Riverside.
Alguns vizinhos apontam agora para algumas pistas de que algo não estaria bem. Julie Olha disse à NBC que a casa tinha mau aspeto e que os membros da família pareciam evitar contactos com os vizinhos: "Dava para ver que eles eram cautelosos, que não queriam olhar para as pessoas." Outra vizinha, Kimberly Milligan, recorda que nos dois anos em que a família viveu no local os viu muito poucas vezes. "Por que nunca víamos as crianças? Em retrospetiva, não me teria lembrado disto, mas eram sinais. Não é normal não ver ou ouvir nove crianças."
Agora, depois da descoberta, os Turpins serão presentes a um juiz na quinta-feira, com nove acusações de tortura e 10 acusações de porem as crianças em risco, disseram autoridades.