A deputada britânica que já foi confundida com uma empregada de limpeza
Quarta economia mundial e uma das cinco potências que têm um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o Reino Unido teve até agora três deputadas negras. Dawn Butler é uma delas e faz questão de não esconder de ninguém que é constantemente vítima de racismo. Até por parte dos seus pares na Câmara dos Comuns em Westminster.
Questionada na BBC 5 Radio Live, no final de fevereiro, sobre se alguma vez foi vítima de discriminação por causa da sua cor de pele no próprio Parlamento britânico, a deputada trabalhista afirmou: "Sim, Deus, há tantos incidentes". E lembrou que, certo dia, quando ia no elevador destinado aos deputados britânicos, uma colega olhou para ela e disse: "Este elevador não é para empregadas de limpeza".
E se agora recusou dizer quem foi o deputado em causa, em 2008, num artigo para a Fawcett Society (organização britânica de defesa dos direitos das mulheres), não hesitou em identificar o deputado com quem teve um encontro menos agradável num bar-terraço destinado apenas a eleitos: David Heathcoate-Amory, deputado do Partido Conservador.
"Ele virou-se e disse-me: "O que é que está aqui a fazer? Isto é apenas para deputados". Depois prosseguiu e perguntou-me: "Você é membro [do Parlamento]? E eu disse: "Sim, sou. E você?" E ele virou-se e retorquiu para outro colega: "Hoje em dia deixam entrar todo o tipo de gente [em Westminster]". Este homem não conseguiu equacionar a imagem que viu à sua frente com a de um deputado. Foi muito incómodo para a minha equipa e tivemos que lidar com isso", escreveu na altura Dawn Butler.
Mais tarde, ao Observer, a deputada, hoje com 46 anos, disse ter feito queixa oficial, mas não obteve qualquer resultado. "Depois de ter sido avisada pelo líder dos deputados conservadores e pelo presidente da Câmara dos Comuns de que nada podia ser feito, não tive outra hipótese a não ser deixar cair o assunto". O deputado conservador em causa respondeu à acusação da colega do Labour, em 2008, denunciando um certo exagero. "Aquilo que ela contesta na realidade é o facto de não a ter reconhecido como nova deputada. Só perguntei o que estava ali a fazer. São muito sensíveis com estas questões e pensam que qualquer observação tem sempre motivos raciais".
Nascida no leste de Londres, numa família numerosa de imigrantes jamaicanos (tem uma irmã e quatro irmãos), Dwan Butler trabalhou no sindicato GMB e chegou a ser conselheira do ex-presidente da Câmara Municipal de Londres Ken Livingstone nas áreas do emprego e dos assuntos sociais. Chegou a deputada em 2005, eleita pela circunscrição de Brent South. Quando Gordon Brown chegou a primeiro-ministro, em 2007, tornou-a uma das seis vice-presidentes do Labour.
Como muitos membros do Parlamento britânico, Butler viu-se envolvida, em 2009, no chamado escândalo das despesas. Em 2010, após a abolição de Brent South, falhou a reeleição por Brent Central, perdendo para a candidata liberal-democrata Sarah Teather. Nas legislativas de maio de 2015 conseguiu voltar a Westminster como deputada por Brent Central. Em setembro apoiou Jeremy Corbyn para líder do Labour.