40 mil morrem à fome em Madaya, cidade presa entre Assad e Hezbollah

A cidade síria está cercada por soldados e rodeada de um campo de minas. 31 pessoas terão morrido à fome no último mês

Madaya fica na Síria, a poucos quilómetros da fronteira com o Líbano, e os seus 40 mil habitantes estão a passar fome extrema após seis meses de cerco. No último mês, 31 pessoas terão morrido à fome nesta cidade, de acordo com uma reportagem da revista digital Vice. Um ativista que falou ao jornal Independent falava em pelo menos 20 mortos na cidade.

A cidade está rodeada um campo de minas e de patrulhas de soldados do exército sírio, leal ao presidente Bashar al-Assad, e do Hezbollah, movimento libanês que, tal como Assad, é xiita. Para os habitantes conseguirem sair, têm que subornar membros do grupo libanês ou militares sírios para conseguirem passar em segurança por entre os explosivos ocultos, e o cerco, que já dura há meio ano, está a matar pessoas à fome.

De acordo com a agência Reuters, um agente das forças de segurança sírias chamou à estratégia de impedir que alimentos e medicamentos chegassem a certas cidades sírias de "Campanha da Fome até à Submissão". No caso de Madaya, a milícia libanesa Hezbollah juntou-se ao cerco da cidade por esta se encontrar tão próxima da fronteira do Líbano. O Hezbollah quer evitar que membros do grupo sírio Frente Al-Nusra, que é sunita e se opõe a Assad, entrem no seu país.

Entretanto, na cidade, há relatos não confirmados de que as pessoas recorrem a comer insetos, plantas selvagens e mesmo gatos, à medida que o cerco se prolonga durante meses e esgota as provisões de Madaya. A imagem abaixo foi divulgada pela editora do site noticioso Middle East Eye.

Nas redes sociais vão surgindo imagens de cadáveres que terão morrido à fome na cidade e fotografias de crianças muito magras. Uma imagem divulgada por Raed Bourhan, intérprete sírio para o jornal britânico The Times que é originário da cidade vizinha de Zabadani, parece mostrar um protesto em que um grupo de homens apela ao Papa e às Nações Unidas para que salvem as crianças de Madaya.

O ativista Hussein Assaf, originário de Madaya, que falou ao jornal Independent, argumentou que o grupo libanês, que tem apoiado Assad na guerra civil da Síria, estava a cercar Madaya, predominantemente sunita, para tentar forçar os rebeldes que combatem o presidente sírio a abdicar de duas cidades xiitas que por agora dominam, mais a norte.

Madaya não é caso único. De acordo com as Nações Unidas, há mais de um milhão de sírios em zonas a que já não chega ajuda alimentar ou de medicamentos. Uma reportagem da agência Reuters conta que alimentos e medicamentos raramente podem entrar em zonas do país que estejam sob o controlo de rebeldes, sendo bloqueados deliberadamente pelo exército de Bashar Al-Assad no âmbito da estratégia da "Fome até à Submissão".

A guerra civil na Síria já dura há mais de cinco anos. Só em 2015, mais de 55 mil pessoas morreram no país, 2500 das quais eram crianças.

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG