Ursula tem quatro dias para fechar programa e convencer eurodeputados

Candidata a presidente da Comissão Europeia vai discursar no Parlamento Europeu em Estrasburgo no dia 16 de manhã. Se não houver adiamento, os eurodeputados votam a sua nomeação às 18.00 (17.00 de Lisboa), nesse mesmo dia

Ursula von der Leyen tem até terça-feira para convencer os eurodeputados sobre as suas intenções programáticas, para liderança da Comissão Europeia, durante os próximos cinco anos. Os presidentes dos grupos parlamentares confirmaram esta quinta-feira a data da votação final, em que conservadora alemã e ministra da Defesa cessante do governo de Angela Merkel pode ser eleita sucessora de Jean-Claude Juncker.

Von der Leyen ainda não garantiu, até este momento, o número de apoios necessários para alcançar a eleição. Esta semana desdobrou-se em reuniões com os membros dos diferentes grupos políticos, numa operação de charme, durante a qual apresentou o seu pensamento sobre matérias chave, como as questões relacionadas com da defesa do Estado de direito ou os compromissos em matéria de ambiente, sem deixar para trás as questões sociais.

O seu discurso ficou, no entanto, "aquém das expectativas", como revelaram ao DN, membros de grupos políticos, dos quais depende a formação de uma maioria, como por exemplo, os Verdes e os Socialistas & Democratas. Estes não deram qualquer garantia de vir a aprovar o nome de Ursula von der Leyen sem que haja "mais compromisso".

Os socialistas defendem, por exemplo, que é necessária uma palavra sobre a proposta do Quadro Financeiro Plurianual, que tem de estar fechada até ao final do ano. Está em causa o aumento das contribuições dos Estados membros para o orçamento de longo prazoda UE, numa altura em que há discrepâncias de largos milhões de euros, entre o proposto pela Comissão e o que defende o Parlamento.

Bruxelas propõe o aumento para 1,13% do Produto Nacional Bruto, enquanto que os eurodeputados aprovaram uma resolução em que defendem que essas contribuições devem alcançar 1,3%. Neste momento continua a não se saber o que pensa a putativa futura presidente da Comissão sobre esta matéria.

Em termos ambientais, Ursula von der Leyen falou esta semana, pela primeira vez sobre a temática, que preocupa "as pessoas, especialmente os jovens", como ela própria reconhece. Esta quarta-feira fez várias promessas, sobre a descarbonização da economia, com "ações para o futuro do nosso planeta", prometendo "mais ambição" em matéria de ambiente. Contudo, "não concretizou", por isso, não tem garantido o voto dos Verdes, que numa primeira fase, no próprio dia em que Von der Leyen foi indigitada, chegaram a dizer que votariam contra.

Perante a indefinição, entre a bancada do Partido Popular Europeu, que é também a família política de Ursula, há quem admita que "pode ser preciso mais tempo" para a preparação de um programa, que satisfaça as várias sensibilidades, dentro de um Parlamento em que já não basta a concordância de duas famílias políticas, como aconteceu até à legislatura anterior.

No entanto, não está ainda excluída a hipótese de o nome da conservadora alemã ser chumbado pelo Parlamento. Von der Leyen precisa de uma maioria absoluta de 376 membros do Parlamento, composto por 751 deputados, para que seja confirmada como a próxima presidente da Comissão Europeia. Caso contrário, não será eleita e o processo de escolha de um sucessor para Jean-Claude Juncker voltará à estaca zero.

A data da eleição está marcada. Na próxima terça-feira, 16 de julho, em Estrasburgo, às 09.00 (08.00 em Lisboa), a governante alemã, membro da CDU de Merkel, apresentará novamente os seus argumentos, num derradeiro discurso no Parlamento Europeu. Segue-se o debate dos eurodeputados, até às 12.30 (11.30). A votação será realizada às 18.00 (17.00).

Von der Leyen terá de trabalhar num tempo recorde, para preparar uma base de trabalho para um mandato de cinco anos, em que a União Europeia terá de fechar um acordo sobre as perspectivas financeiras de longo prazo, durante a fase transitória em que o bloco deixará de contar com um dos seus membros. A este respeito, Ursula já afirmou que tudo fará para manter o Reino Unido na União Europeia, aprovando todos os adiamentos necessários.

A alemã foi indigitada no início do mês, no final de uma Conselho Europeu que se prolongou por três dias, em que foi definida uma distribuição para os cargos de poder institucional, na União Europeia. A chave encontrada, no meio de controvérsia e grande tensão, depois de um grupo de países terem chumbado um acordo que estava praticamente fechado, permite, ainda assim, colocar duas mulheres em funções de liderança.

Além da alemã na Comissão Europeia, a conservadora francesa Christine Lagarde assumirá a presidência do Banco Central Europeu. O cargo de Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança será ocupado pelo ministro cessante dos Negócios Estrangeiros do governo socialista espanhol, Joseph Borrel. A presidência do Conselho Europeu será entregue ao liberal belga Charles Michel, ao passo que a presidência do Parlamento Europeu foi ocupada na semana passada pelo socialista Italiano David-Maria Sassoli, depois de ser escolhido por maioria, na câmara de Estrasburgo.

A decisão dos lideres europeu fez cair por terra o prometido processo do Spitzenkandidat, de acordo com o qual o nome do presidente da Comissão Europeia terá de ser eleito nas listas de candidato ao Parlamento Europeu, refletindo o resultado das eleições europeias.

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