Nem a referência ao “maior investimento em habitação pública desde o realizado nos anos 90”, feita por Luís Montenegro no final da sua primeira mensagem de Natal enquanto primeiro-ministro, foi uma verdadeira novidade. Há cerca de três meses, o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz, anunciara o “maior investimento de sempre em habitação”, mas a generalidade daquilo que foi dito por Montenegro na noite de 25 de dezembro, perante críticas igualmente generalizadas dos restantes partidos, não passou da repetição do Programa do Governo e de outras intervenções do primeiro-ministro..Nas questões de segurança, as coincidências não ficam pela alegação, incluída por Montenegro na mensagem de Natal, de que Portugal é “um dos países mais seguros do Mundo”. Tal como no fim de novembro, também numa comunicação televisiva, depois de se reunir com chefias das forças de segurança e as ministras da Administração Interna e da Justiça, Margarida Blasco e Rita Júdice, advertiu que “temos de salvaguardar esse ativo”. Um mês antes disse que tem de ser “trabalhado e alcançado todos os dias”..Entre outros pontos centrais da mensagem natalícia, incluindo a “imigração regulada” ou a redução de impostos e subida de salários enquanto “elemento de política económica e social”, prevaleceram citações, mais ou menos diretas, do Programa do Governo. Bem como na menção, repetida duas vezes pelo primeiro-ministro, a medidas destinadas a que jovens fiquem e trabalhem em Portugal “junto dos seus pais e dos seus avós”..Mesmo a referência polémica à atualização de todas as pensões, realçando que foi “sem truques” - antes de recordar que o seu Governo aumentou duas vezes o complemento solidário para idosos e destinou “parte da disponibilidade orçamental” a garantir um suplemento extraordinário a pensões até 1527 euros - repetiu respostas da Aliança Democrática a críticas feitas pela oposição ao longo deste ano. E que também se aplicaram à mais recente intervenção de Montenegro..Consenso entre a oposição.A líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, disse que a mensagem de Natal “contrasta com a realidade”, traçando “um quadro eleitoralista de um país que não é o que os portugueses conhecem”, e com medidas do Governo que “cavalgam uma perceção de insegurança”. Em sentido contrário, elogiou um artigo de Marcelo Rebelo de Sousa, publicado ontem pelo Jornal de Notícias, no qual o Presidente da República advogou que é necessário “promover a igualdade e afastar as exclusões”..Alexandra Leitão acusou ainda Montenegro de procurar “desviar a atenção” do facto de o Governo “não estar a resolver o problema dos portugueses”. E a esse propósito referiu as urgências obstétricas fechadas no período de Natal, assegurando que foram mais do que em anos anteriores, tal como a subida do preço das habitações para valores recorde, e os “milhares de alunos sem professores”..Já André Ventura acusou Montenegro de “não viver nem ver o país como 99% dos portugueses”. Sobretudo pela afirmação de que Portugal é um dos países mais seguros do mundo, com o líder do Chega a referir ter “praticamente a certeza” de que os dados de 2024 vão traduzir um acréscimo de ocorrências relacionadas com violência urbana, tráfico de droga e violência doméstica..Apesar da alegação de que o Orçamento do Estado para 2025 é o primeiro em muitos anos a não aumentar impostos, feita pelo primeiro-ministro, Ventura disse que o Governo continua a penalizar quem trabalha para “financiar a despesa e o tamanho do Estado”, com um espírito que disse aparentar “ser o mesmo de António Costa”..Também crítico, o presidente da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, perguntou “como é que é possível fazer um discurso autoelogioso quando nada de essencial mudou e muitas coisas pioraram, quanto mais não seja porque passou tempo e nada se resolveu”, apontando a Saúde, a Educação e a Habitação como “falhanços claros deste Governo”. Sublinhando a necessidade de reduzir a carga fiscal e de fazer reformas no Estado, o líder partidário disse que a mensagem denota que Montenegro se apresentou aos portugueses com “um projeto político esgotado”..Mais à esquerda, o PCP defendeu que Montenegro falou de “um país ao contrário” e que “não cola com a realidade e com as dificuldades de milhões de portugueses”, com o dirigente Jaime Toga a realçar que Portugal “tem dois milhões de pessoas abaixo do limiar da pobreza”, tal como “um milhão de reformados que recebem pensões de miséria”. E o Livre, através do deputado Paulo Muacho, apontou “uma cedência retórica à extrema-direita e uma cedência numa política cada vez mais securitária”, insistindo nas falhas da governação nos setores da Saúde, Educação e Habitação. Lamentou ainda a descida de impostos, que “privilegia quem tem mais e quem não precisa”, e uma “política de ecologia sem grande plano de ação”..Com a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, a desafiar Montenegro para que “passe das palavras à ação”, nos problemas da população e nas alterações climáticas, a defesa da mensagem do primeiro-ministro coube ao líder parlamentar do CDS-PP, Paulo Núncio, para quem Montenegro “fez muito bem em colocar a questão da segurança na mensagem de Natal”, visto que “a segurança é um direito fundamental dos cidadãos e a polícia tem a obrigação de defender e assegurar este direito fundamental”. E ao vice-presidente do PSD, Carlos Coelho, que destacou as promessas de melhoria dos serviços de saúde e de educação, bem como na imigração regulada, na melhoria dos transportes públicos e no “maior investimento em habitação pública desde há muito anos”, numa declaração “que, em vez de olhar para o passado, olha para o futuro com uma mensagem de esperança”.