Num automóvel elétrico novo as baterias não são um problema, pois a maioria das marcas dão oito anos ou 160 mil quilómetros de garantia, mas num veículo em segunda mão pode ser um motivo de receio e até mesmo a causa para uma desvalorização acentuada. No entanto, como existem muito menos componentes sujeitos a desgaste (sem embraiagem e pastilhas e discos de travão com maior durabilidade), o maior receio dos condutores é o estado de saúde em que se encontra a bateria de tração. Mas, será mesmo assim?“Quanto maior a diversidade de oferta de novos automóveis elétricos, mais unidades surgem no mercado de usados. Se compararmos com um veículo de combustão, a desvalorização é igual. Continua a ser uma questão de procura e de oferta. Não há uma diferenciação na desvalorização da viatura de combustão para a viatura elétrica de nova para usada”, explica Nuno Silva, presidente da Associação Portuguesa do Comércio Automóvel (APDCA), em declarações ao Motor24/Diário de Notícias. “À medida que os carros novos vão saindo, com tecnologias que os tornam um pouco mais baratos, o preço nos carros elétricos é nivelado. As baterias, por exemplo, raramente dão problemas, exceto se tiverem uma utilização excessiva, o mesmo acontece num motor a combustão”, continua.Exemplificando: “Existem baterias para a primeira geração do Nissan Leaf que oscilam entre os 2000 e os 5000 euros, consoante a potência da bateria. Na verdade, custa o mesmo que um motor de combustão a gasolina de pequena cilindrada.”A verdade é que o mercado português tem demonstrado um sólido crescimento na adoção de automóveis elétricos novos. No ano passado, só a categoria de ligeiros de passageiros representou 19,9% do total das vendas no país, segundo a Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP). No final de 2024 tinham sido vendidos 41 757 BEV (Veículos elétricos alimentados a bateria), mais 5367 do que no fim de 2023 (36 390).Em comparação, os veículos a gasolina e gasóleo representaram quotas de 33% e 9,7%, respetivamente. Em dezembro passado, de um total mensal de 20 182 automóveis matriculados, 5709 eram a gasolina e 5142 100% elétricosEm apenas 13 anos, o crescimento do parque nacional de veículos elétricos - que passou de 950 unidades em 2010 para 130 250 em 2023 - estabelece as condições para o amadurecimento do mercado de usados deste tipo de viaturas.“Não existe um valor percentual específico de desvalorização dos automóveis elétricos”, assegura Nuno Silva. Por exemplo, “um Leaf de 2021 ou 2022, com bateria de 40 quilowatts, já se vende entre os 20 mil e os 24 mil euros, com IVA incluído. Sabendo o preço dos carros novos dá para ter uma noção da percentagem, mas isso está relacionado com os níveis de equipamento, com o número de quilómetros e o estado geral da viatura”, conclui.Para Miguel Vassalo, diretor-geral da Autorola, empresa que criou a Indicata, plataforma de análise do mercado de automóveis usados em tempo real, presente em 13 países, é também uma questão de oferta e de procura: “Conseguimos monitorizar o mercado de automóveis usados em tempo real, todos os dias e a toda a hora. Não há qualquer tipo de modulação, ou seja, olhamos para a forma como os carros estão anunciados e com base na análise do comportamento, no presente e no passado, estabelecemos uma tendência”, refere o responsável.A plataforma recorre a uma ferramenta de previsões (forecasting) com um algoritmo sofisticado que permite antecipar valores de desvalorização. Para tal, são tidos em conta vários parâmetros para comparar com as viaturas de combustão. “Um indicador importante é o marketplace supply que revela o equilíbrio ou o desequilíbrio entre a oferta e a procura a cada momento. Outro fator é a política fiscal e os apoios para a transição energética”, sublinha Miguel Vassalo. “Não somos nós que dizemos ao sistema quanto é que vale essa diferença entre dois carros com quilometragens diferentes, é o próprio mercado que diz como valoriza essa diferença”, acrescenta.O mercado dos elétricos usados funciona como todos os outros mercados. “A relação entre a oferta e procura é o fiel da balança. Em meados de 2023, os elétricos começaram a descer o preço, fruto de um desequilíbrio entre a oferta e a procura, com mais carros no mercado. Depois houve também alguns reposicionamentos no preço dos novos, nomeadamente na Tesla, o que levou a alguma volatilidade, com uma queda mais acentuada nos BEV”, exemplifica.Os dados revelados pelo Standvirtual, plataforma de compra e venda de veículos usados, corroboram as declarações dos especialistas: em dezembro do ano passado houve um aumento de 102% da procura e de 53% da oferta de BEV, face ao período homólogo em 2023. Os próprios fabricantes de automóveis demonstram também já um elevado nível de confiança na tecnologia das baterias dos seus veículos elétricos ao aumentarem as suas garantias até um milhão de quilómetros, como é o caso da Toyota com o bZ4X e a KGM com o modelo Torres.