O último beijo do Gordo vai para o ar nesta temporada

Ao 28.º ano, o <em>Programa do Jô</em> termina. Com 15 mil entrevistas, foi sempre mais<em> </em><em>talk</em> do que <em>show</em>. "Vou fazer homenagens aos convidados", disse o apresentador Jô Soares ao DN
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No dia seguinte a ter sido noticiado que o Programa do Jô vai entrar, a partir de março e até ao fim do ano, na última temporada, após 28 anos de exibição, o apresentador - e humorista, ator, escritor, dramaturgo, músico e pintor - revelou ao DN que vai aproveitar a despedida "para homenagear convidados". "Farei esta última temporada com muito carinho e prestando homenagens a alguns convidados", garantiu.

Com 28 anos seguidos, o brasileiro fica a apenas dois de igualar um ícone dos EUA: "O Johnny Carson ficou 30 anos no ar, eu queria ficar 30 também mas não vai dar." O exemplo é sintomático: a sua referência é Carson, que comandou o Tonight Show de 1962 a 1992 e não nenhum dos seus sucessores. A TV Globo, porém, deseja um formato mais próximo do de Jimmy Fallon, de 41 anos, o atual titular do talk show da norte-americana NBC.

"O Jimmy Fallon é um comediante talentosíssimo, mas o programa é muito mais um espetáculo do que de entrevistas", disse Jô ao jornal O Estado de S. Paulo. E, como defende o crítico de televisão do grupo UOL e colunista do jornal Folha de S. Paulo Maurício Stycer, "nestes 28 anos [Jô] foi sempre fiel à ideia de que um programa deste tipo deve ter mais talk do que show". Nessa perspetiva, a Globo, que exibe o programa desde 2000 (nos 12 anos anteriores chamava-se Jô Soares Onze e Meia e passava no SBT), pondera testar o humorista Marcelo Adnet, de 34 anos, no lugar deixado por Jô Soares - uma ideia que a emissora negou mas que a imprensa dá como adquirida. Para tal, Adnet, que chegou a participar em sketches humorísticos no Programa do Jô, vai ter já a partir deste semestre o seu programa.

"O programa do Adnet está sendo pensado noutro formato, noutro horário e com outra dinâmica", diz Ricardo Waddington, diretor do núcleo que coordena os talk shows do canal, evitando comparações para não desconsiderar Soares nem pressionar Adnet. Adnet, no entanto, em recente entrevista à revista Serafina, tocou no ponto ao afirmar que o seu programa será "um talk show com mais show do que talk". "Porque estamos numa sociedade que não debate, só quer fazer troça, não quer ouvir ninguém falar a sério sobre nada, quer fazer uma revolução sem ler meio livro sequer, porque dá muito trabalho", concluiu.

A decisão de encerrar o programa começou em 2015, revelou Jô à imprensa: "Quando renovámos o contrato, há dois anos, achámos que seria o tempo certo, a gula é um pecado..." Já naquele ano o talk show passara dos habituais 60 a 80 minutos para 40, com menos um intervalo, e o sexteto musical tornara-se quarteto. A banda, composta entre outros pelo carismático baixista Bira e o auxiliar chileno Alex, era a atração do programa na qualidade de alvos preferenciais das piadas do apresentador. Outras atrações eram as rubricas Humor na Caneca, em que humoristas faziam números de stand up, ou As Meninas do Jô, em que cinco jornalistas, todas mulheres, comentavam a atualidade política brasileira. Além, claro, dos entrevistados, que em 28 anos passaram dos 15 mil.

E o que vai fazer Jô a partir de 2017? "Quero fazer o que sempre fiz, escrever livros e dirigir peças. Tal como a Globo, não pretendo parar..."

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