Larry King acusado de receber dinheiro para entrevistar político ucraniano
Larry King foi apanhado no meio de um escândalo político internacional, que envolve alegados pagamentos ilícitos da Ucrânia aos Estados Unidos. O jornalista terá recebido 225 mil dólares (cerca de 198 mil euros) para entrevistar o então primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, em 2011.
A acusação surge na sequência de revelações feitas pelo jornalista de investigação e membro do parlamento ucraniano, Serhiy Leshenko. Segundo este, o Partido das Regiões (ucraniano) transferiu 12,7 milhões de dólares (cerca de 11,2 milhões de euros) para Paul Manafort, o ex-diretor de campanha de Donald Trump, que em 2011 na altura trabalhava como conselheiro de relações públicas do presidente ucraniano pró-russo, Víktor Yanukóvytch.
Encaixado neste montante, afirma o jornalista, está um registo do pagamento a Larry King para concretizar a entrevista, emitida na altura pela televisão estatal ucraniana. "O Partido das Regiões enviou dinheiro dos seus ativos ilegais para Larry King. Ele recebeu 225 mil dólares de uma conta ilícita do partido", afirmou Serhiy Leshenko.
Fontes próximas de Manafort, escreve o The Guardian, afirmaram que o ex-diretor de campanha de Donald Trump não está envolvido no pagamento feito a Larry King. Ao invés, as mesmas fontes sugerem que a "estúpida ideia" da entrevista partiu da equipa de assessores de imprensa de Mykola Azarov, sendo eles os únicos responsáveis pela organização de encontro.
Os últimos desenvolvimentos do caso indicam que a entrevista de Larry King serviu as pretensões estratégicas do Partido das Regiões em 2011. O objetivo seria influenciar a opinião pública norte-americana e desviar as atenções da governação cada vez mais autoritária de Yanukovych, o ex-presidente da Ucrânia.
Entrevista sem propósito aparente
Larry King viajou para Kiev em novembro de 2011 com o objetivo de entrevistar o então primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, que se figurava como uma peça chave para o governo do Presidente Viktor Yanukovhy, sucessivamente acusado pela população de atos de corrupção.
Sobre tudo e sobre nada. Assim se podia descrever a entrevista de King a Azarov, que se sustentou essencialmente sobre perguntas ligeiras como: "O que é que gosta mais no seu trabalho?", ou "Porque é que a política lhe interessa?"; e ainda preocupações: "Como vai a sua saúde?". King manteve-se à margem de perguntas polémicas, apenas ameaçando pisar o risco quando perguntou sobre a relação entre Azarov e Yulia Timochenko, uma das suas principais opositoras políticas e que acabou por ser detida semanas após a entrevista. "Tem alguma simpatia por ela?", perguntou King. "Claro que sim", ouviu como resposta.
Na sequência da entrevista, o jornalista norte-americano de 82 anos terá descrito Azarov como um homem "honesto e simpático, com profundo conhecimento do mundo dos negócios".
Já em conversa com outros jornalistas ucranianos, Larry King afirmou: "depois da entrevista eu disse à minha mulher que ele [Azarov] daria um político de sucesso nos Estados Unidos. Faz-me lembrar o Jimmy Carter [39º Presidente dos EUA]. É bem-parecido e é uma pessoa de fácil convívio."
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Recorde-se que Larry King abandonou a estação de televisão norte-americana CNN, em 2010, para se juntar à equipa do canal Russia Today, onde apresenta o programa "Larry King Now" desde julho de 2012.