Morreu Peter Arnett, famoso repórter de guerra que esteve no Vietname e no Golfo. Tinha 91 anos

Morreu Peter Arnett, famoso repórter de guerra que esteve no Vietname e no Golfo. Tinha 91 anos

O jornalista destacou-se quando, no seu quarto de hotel, transmitiu ao vivo para a CNN, através do seu telemóvel, as imagens dos mísseis a cair em Bagdade. Antes disso, foi Prémio Pulitzer em 1966.
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O repórter de guerra Peter Arnett morreu quarta-feira, aos 91 anos, em Newport Beach, na Califórnia, Estados Unidos.

Durante vários anos cobriu os principais conflitos mundiais com destaque para a guerra do Vietname quando trabalhava para a Associated Press (AP), que lhe valeu um prémio Pulitzer em 1966, e ainda para a guerra do Golfo para a CNN, onde transmitiu pela primeira vez para a televisão a guerra em direto a partir do Iraque, em 1991.

Arnett nasceu a 13 de novembro de 1934 em Riverton, Nova Zelândia, tendo começado a carreira num jornal local, o Southland Times. Na altura, tinha o sonho de trabalhar em Londres, mas fez uma paragem na Tailândia, onde trabalhou no jornal em língua inglesa Bangkok World e, mais tarde, num outro no Laos, onde estabeleceu os contactos que lhe permitiram dar o salto para a AP.

Na agência norte-americana tornou-se correspondente na Indonésia, acabando por ter sido expulso pelo governo local, na sequência da crise financeira naquele país asiático. Foi depois para o Vietname para cobrir a guerra.

"Foi um dos maiores correspondentes de guerra da sua geração. Intrépido, destemido e um excelente escritor e contador de histórias. As suas reportagens impressas e filmadas permanecem como um legado para os aspirantes a jornalistas e historiadores das próximas gerações", referiu Edith Lederer, que foi correspondente de guerra da AP no Vietname em 1972-73 e agora é correspondente-chefe da mesma agência junto das Nações Unidas.

Tornou-se mundialmente famoso na Guerra do Golfo quando decidiu permanecer em Bagdade antes do ataque dos EUA. De acordo com a AP, quando os mísseis começaram a cair na capital do Iraque, Peter Arnett transmitiu ao vivo via telemóvel a partir do seu quarto de hotel.

"Houve uma explosão bem perto de mim, vocês devem ter ouvido", disse, na altura, com uma voz calma e com sotaque neozelandês, momentos depois de se ouvir o estrondo de um ataque de mísseis.

Com inúmeras histórias de guerra, Peter Arnett contou em 2013, durante uma palestra para a American Library Association, um dos episódios mais marcantes na guerra do Vietname. Foi em janeiro de 1966, quando se juntou a uma missão de um batalhão de soldados norte-americanos e estava ao lado do comandante do batalhão quando um oficial parou para ler um mapa. "Enquanto o comandante examinava o mapa, ouvi quatro tiros altos, com as balas a atravessarem o mapa e a atingirem o seu peito, a poucos centímetros do meu rosto. Ele caiu no chão aos meus pés", recordou na altura.

Arnett esteve no Vietname até a capital Saigão (agora Ho Chi Minh) cair nas mãos dos vietnamitas do norte, sendo que nos últimos dias recebeu ordens da AP para destruir os documentos da agência porque a guerra estava a chegar ao fim. Contudo, acabou por não obedecer à ordem e enviou os documentos para a sua casa, em Nova Iorque, com a esperança que um dia iriam ter valor, encontrando-se agora nos arquivos da agência.

Em 1981, Peter Arnett deixou a AP para se juntar à recém-formada estação de televisão norte-americana CNN, de onde acabou por se demitir em 1999, depois de ter sido retirada do ar uma reportagem de investigação narrada por ele, onde se revelava que gás sarin letal tinha sido usado contra os soldados norte-americanos que desertaram no Laos em 1970.

Em 2003 voltou ao Médio Oriente para cobrir a segunda Guerra do Golfo para a NBC e para a National Geographic, tendo também sido demitido por ter dado uma entrevista à televisão estatal iraquiana, na qual criticava a estratégia de guerra do exército norte-americano.

Quatro anos mais tarde, foi professor de jornalismo na Universidade de Shantou, na província chinesa de Guangdong. Em 2014 reformou-se e mudou-se com a mulher, Nina Nguyen, para a Califórnia.

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