O Facebook iniciou esta semana uma das mudanças mais controversas na sua história recente, visando diretamente a forma como os indivíduos partilham informação. A partir da passada terça-feira, 16 de dezembro, uma parte considerável de utilizadores -- especificamente aqueles que utilizam o "Modo Profissional" nos seus perfis ou que gerem páginas --passou a estar limitada a apenas duas publicações com links externos por mês. Para ultrapassar esta barreira e partilhar conteúdos de forma ilimitada, a plataforma exige agora a subscrição do serviço pago Meta Verified.A nuance da medida reside no facto de a restrição recair sobre quem partilha e não necessariamente sobre quem produz a informação. Embora os grandes órgãos de comunicação social e jornais (publishers) continuem, para já, isentos de limites nas suas próprias páginas oficiais, os leitores individuais que utilizam perfis profissionais perdem a capacidade de difundir essas mesmas notícias de forma ilimitada. Na prática, se um utilizador quiser partilhar três artigos de jornais diferentes num mês no seu perfil profissional, será impedido de o fazer na terceira tentativa, a menos que pague uma mensalidade. Esta estratégia ataca a viralidade orgânica de conteúdos profissionais, uma vez que a circulação de informação na rede social depende fortemente da iniciativa individual de partilha dos utilizadores.Para os utilizadores em Portugal, os custos desta "liberdade de partilha" já estão definidos: a subscrição básica do Meta Verified custa 13,99 euros mensais, se for adquirida via Web, subindo para os 16,99 euros se o pagamento for feito através das aplicações iOS ou Android.Para criadores de maior escala ou pequenas empresas que necessitem de garantias adicionais de visibilidade, a Meta introduziu o plano Meta Max, cujos valores podem ascender aos 499 euros mensais. Para a maioria dos utilizadores independentes, bloggers e profissionais liberais, estes valores representam uma barreira económica que torna agora o Facebook uma plataforma em que é necessário pagar para participar, pelo menos em pleno.A Meta, na sua comunicação oficial, justifica este teste como uma forma de "compreender o valor acrescentado" para os seus subscritores, mas analistas do setor veem a medida como uma tentativa de forçar a retenção de utilizadores dentro da aplicação -- ou seja, forçar a que os criadores de conteúdos o façam dentro da plataforma, penalizando-os por tentar levar a audiência para fora do ecossistema da Meta. A empresa favorece conteúdos nativos como os Reels ou fotos, que não sofrem qualquer restrição. Uma forma de contornar o bloqueio, sem custos, é a colocação de links na secção de comentários, uma prática que a Meta ainda permite, mas que poderá também vir a ser alvo de limitações no futuro próximo.Esta política de restrição individual surge num momento de grande tensão regulatória na Europa. Ao abrigo do Regulamento dos Mercados Digitais (DMA), a União Europeia tem exigido que as gigantes tecnológicas norte-americanas facilitem a livre circulação de informação e a concorrência. Resta saber se a imposição de um limite tão estreito à partilha individual de links será interpretada por Bruxelas como forma de censura económica ou abuso de posição dominante, especialmente por prejudicar a visibilidade de fontes de informação externas em favor do conteúdo controlado pela própria plataforma.