Nova assinala 40 anos de um dos primeiros cursos de Engenharia do Ambiente do mundo
Foi a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (FCT/UNL) que criou o curso em 1977 e foi "pioneira a nível mundial", explicou à Lusa a presidente do departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da FCT/UNL, Júlia Seixas.
Para assinalar a efeméride a Universidade organiza na quarta-feira uma conferência sobre os 40 anos da política ambiental em Portugal, na qual se apresentam dezena e meia de testemunhos de antigos ministros do ambiente, incluindo o do atual ministro João Matos Fernandes e o do antigo primeiro-ministro José Sócrates, que foi ministro do Ambiente no XIV Governo (de António Guterres).
"A problemática do Ambiente tem vindo a evoluir, na altura era pouco mais do que a água e o saneamento básico ligado à engenharia civil. Mas o tempo veio dar razão aos visionários que criaram o curso", disse Júlia Seixas, lembrando que hoje abrange áreas que vão da biodiversidade às alterações climáticas ou à eficiência energética.
João Joanaz de Melo foi um dos primeiros a tirar o curso na FCT/UNL, onde hoje é professor. Também à Lusa lembra o pioneirismo mundial do curso e diz que para os primeiros alunos foi "um salto no escuro", porque nem se sabia as oportunidades de emprego.
A sua escolha de Engenharia do Ambiente, recorda, teve a ver com o currículo ser atrativo, por ser muito interdisciplinar ("era um conceito revolucionário, o primeiro curso com cadeiras de avaliação de impacto ambiental"), por ser uma área nova, "em crescimento, numa época em que em Portugal estava tudo por fazer", mas também porque o "campus" era perto da praia.
Na altura, e apesar de as temáticas ambientais já serem faladas dez anos antes (conferência de Estocolmo da ONU, em 1972), "a perceção não era generalizada" e o tema não tinha a "respeitabilidade política" que tem hoje, diz o ambientalista, ligado também ao Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA).
A interdisciplinaridade da Engenharia do Ambiente havia de ser também salientada por Júlia Seixas na conversa com a Lusa, quando falou da qualidade do ar das cidades, da mobilidade sustentada, da economia do mar ou da biodiversidade, da indústria dos transportes, da natureza ou do turismo.
A Engenharia do Ambiente "integra a actividade humana, a tecnologia e os recursos naturais", diz, acrescentando que precisa das outras engenharias mas tem "um olhar integrado", para saber por exemplo como uma cidade é transformada para resistir a fenómenos extremos.
O século XX, lembra, mostrou o que é actividade humana sem respeito pelos recursos naturais, "a Engenharia do Ambiente será a engenharia do século XXI".
E as grandes empresas, afiança, já têm como parte importante a sustentabilidade, porque sabem que isso é uma mais-valia, e essa vai ser a "norma" neste século, quando as pessoas deixarem de comprar o que é mais barato, o que ainda acontece, para comprarem o mais sustentável.
Joanaz de Melo também não tem dúvidas: "Há cada vez mais pessoas a perceberem que é importante". Mas deixa um alerta. É que se os portugueses consideram importantes as questões ambientais e de sustentabilidade, envolvem-se pouco enquanto "atores de cidadania".
"Temos um problema de recursos ligado ao estilo de vida consumista. Temos um modelo de sociedade que funciona mal em termos dos limites ambientais do planeta. A parte fácil é a tecnologia, a parte difícil são as pessoas", adverte.
E por isso, também por isso, lá estão os engenheiros ambientais, nos novos sistemas energéticos, na perda de biodiversidade, na contaminação por substâncias tóxicas. E eles são importantes? "Diria que a importância é cada vez maior desde que as pessoas o exijam", responde Joanaz.
A FCT/UNL recebe por ano 65 alunos em Engenharia do Ambiente, mesmo nas alturas de crise, segundo Júlia Seixas. E há engenheiros formados ali em cargos de topo de grandes empresas do mundo. E ainda mais meia dúzia de universidades a formar engenheiros "do século XXI" (a de Aveiro a fazer em breve também 40 anos).
Joanaz de Melo não sabe o que é feito dos engenheiros do ambiente formados noutras escolas, mas garante que cerca de 95% dos saídos da FCT/UNL estão empregados.
E nem ele nem Júlia Seixas duvidam que a Engenharia do Ambiente vai estar neste século em todas as áreas da atividade económica. E que o mundo sem ela, apesar de tão recente, não era o mesmo mundo.