Sofia da Palma Rodrigues lançou o desafio à agência Lusa, na cidade da Praia, no âmbito de um simpósio internacional sobre Aristides Pereira, realizado por ocasião dos 94 anos do nascimento do primeiro Presidente da República de Cabo Verde, falecido em 2011..A investigadora portuguesa, mestre em Ciências da Comunicação e licenciada em Comunicação, está a fazer doutoramento em Pós-Colonialismo e Cidadania Global, onde recolha testemunhos de comandos africanos, que participaram na guerra colonial..Em declarações Lusa, disse que essas pessoas ficaram numa "zona cinzenta da história", uma vez que as suas vozes não aparecem nem na história construída por Portugal, nem na construída pelo Partido Africano da Independência de Guiné e Cabo Verde (PAICG). .Por isso, disse que os comandos africanos reivindicam reconhecimento como tropas das Forças Armadas Portuguesas, para terem as suas pensões e os tratamentos de saúde a que têm direito.."Porque fizeram um juramento de bandeira como sendo cidadãos portugueses, e enquanto as tropas brancas foram reconhecidas, muitos dos negros ficaram abandonados", notou a investigadora, que é também jornalista 'freelancer'. .Sofia da Palma Rodrigues, que foi um dos oradores no simpósio internacional, disse que muito dessas pessoas ainda têm ferimentos da guerra, com ferros que lhes foram introduzidos no corpo, e que nunca foram tratados.."Aquilo que as pessoas dizem é que é uma vergonha Portugal não reconhecer e eles dizem inclusivamente que ficaram filhos sem pai e sem mãe, porque se Portugal abandonou-os, o PAICG não os integrou na nova ordem, porque são considerados os mais violentos no campo de batalha e ficaram no limbo identitário, não são de cá nem são de lá", explicou..A investigadora, que está a meio da tese de doutoramento, em que o objeto de estudo é a Guiné-Bissau e as três companhias de africanos que foram constituídas pelo antigo governador-geral da então província ultramarina da Guiné, António Spínola, depois de 1971, disse que o objetivo é fazer os comandos também contribuir para a construção da história..O simpósio internacional, organizado pela Fundação Amílcar Cabral, em parceria com a Associação dos Combatentes da Liberdade da Pátria, pretende recordar e homenagear Aristides Pereira, o primeiro Presidente da República de Cabo Verde, entre 1975 e 1991, que morreu em 2011, aos 87 anos..Durante quatro dias, académicos e investigadores da história de libertação nacional da Guiné-Bissau e Cabo Verde irão debruçar-se sobre o percurso de Aristides Pereira, no simpósio com título "Recordando o Homem, edificando a história"..Além do simpósio, está igualmente patente uma exposição na Biblioteca Nacional sobre a sua vida e obra e visitas a vários locais relacionados com o seu percurso, tanto na cidade da Praia com na Boavista, ilha onde nasceu.