As críticas de Xanana Gusmão estão detalhadas numa carta que enviou a 18 de janeiro ao procurador-geral da República, José Ximenes, obtida pela Lusa, e referem-se ao que diz ser a perseguição feita, em particular ao número dois do CNRT, Francisco Kalbuadi Lay.."A insistência, dedicação e especial empenho que os serviços do Ministério Público têm demonstrado ao atacar como atacam o senhor Francisco Kalbuadi Lay, demonstra que os senhores procuradores da República não têm interesse em fazer justiça, mas têm somente interesse em interferir na dinâmica política do Estado, de modo a influenciar certos grupos políticos", escreve Xanana Gusmão na carta.."Será que os responsáveis políticos da Fretilin têm alguma imunidade não prevista na constituição ou na lei, que os afasta da sua responsabilização, e que impede o MP de cumprir a sua missão sobre eles", questiona..Xanana Gusmão questiona o facto de o MP estar a perseguir o dirigente do CNRT, mas ao mesmo tempo não ter tomado medidas contra o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, por irregularidades identificadas pela Câmara de Contas na gestão da Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA) ou pelo levantamento não autorizado, durante o VII Governo, de 70 milhões de dólares do Fundo Petrolífero.."Para voltar a respeitar a justiça, é importante que os cidadãos saibam as razões da sua aplicação e os critérios das decisões que a instituição tomou no cumprimento do seu mandato constitucional e legal. No entanto a ação atual do MP não é transparente em relação aos princípios que norteiam a sua ação e a atuação dos seus agentes", sublinha..Xanana Gusmão considera que os agentes do MP "continuam a demonstrar uma grande ignorância e desconhecimento que são muito perigosos" para Timor-Leste..Nas últimas semanas, a imprensa timorense tem noticiado, sem detalhes concretos, a emissão de um suposto mandado de detenção de Lay, suspeito de branqueamento de capitais..Fontes judiciais ouvidas pela Lusa indicaram que Lay teria sido "notificado" para um inquérito, escusando-se a avançar pormenores do caso, e fonte do CNRT disse que Kalbuady Lay está em convalescença em Singapura, onde foi operado recentemente. \tXanana explica que em dezembro do ano passado recebeu uma notificação da procuradora Lídia Soares, que está atualmente destacada no "gabinete central de combate à corrupção e ao crime organizado" sobre Lay.."Através desta notificação a senhora procuradora pediu-me autorização para que o senhor Francisco Lay se deslocasse ao MP para responder a um processo de inquérito no qual é suspeito da prática de crime de branqueamento de capital", escreve..Um pedido, disse, que lhe causou, "um sentimento de surpresa e indignação" porque, 17 anos depois da independência "e depois de um investimento de milhões de dólares para a formação de juízes no MP, continuam a demonstrar uma grande ignorância e desconhecimento que é muito perigoso para as leis que vigoram" no país..Xanana Gusmão diz que não tem que dar ou recusar autorização para que Lay ou qualquer outra pessoa seja ouvido pelo MP, ou qualquer outra instância judicial, insiste que "não há pessoas acima da lei" e que quem viola a ordem jurídica tem que responder por isso..O ex-Presidente declara-se "indignado" com a notificação de Lídia Soares, afirmando que se houver qualquer dúvida ou questão a esclarecer Lay deve ser chamado desde que a procuradora "tome medidas e cumpra as formalidades estabelecidas"..O líder do CNRT vincula igualmente o caso à postura do Presidente da República recusar dar posse a nove membros do atual Governo, incluindo o próprio Kalbuadi Lay, por terem "o seu nome identificado nas instâncias judiciais competentes" ou terem "um perfil ético controverso"..A posição de Francisco Guterres Lu-Olo foi anunciada há vários meses, muito tempo antes do caso de Lay ser conhecido publicamente e depois de o Tribunal de Díli ter formalmente confirmado não haver qualquer processo contra o dirigente do CNRT..Motivos pelos quais Xanana Gusmão considera ter havido violação de segredo de justiça neste processo, questão que deve ser investigada pelo MP, especialmente porque houve "ataques ao caráter de um grupo de cidadãos timorenses".."Isso constituiu uma limitação dos seus direitos políticos, impondo-lhes uma condenação na qual não houve julgamento prévio, nem direito à defesa. O MP deveria abrir um inquérito para investigar os responsáveis que cometeram o crime referido. Mas o MP que é liderado superiormente por vossa excelência não efetuou qualquer ação", escreve.