Unir o partido é a difícil missão da nova líder da CDU na Alemanha - analista
A sucessora de Angela Merkel, conhecida pela sigla AKK, foi escolhida com pouco mais de 51% dos votos no Congresso da CDU de Hamburgo, que se celebrou na passada sexta-feira e sábado. Mas foi preciso uma segunda votação para chegar ao nome do novo líder.
"O resultado eleitoral foi muito próximo. Isso mostra bem que o partido não está de acordo em relação ao futuro. Possivelmente [o segundo candidato mais votado] Friedrich Merz teria polarizado o debate político de uma forma mais vincada. Na minha opinião, AKK tem maiores chances de unir os vários grupos dentro da CDU", acredita Ulrich Eith, em declarações à Lusa.
O professor de Ciências Políticas da Universidade de Friburgo sublinha que "lutas internas consecutivas e rivalidades dentro de um partido, levam a uma perda de apoio dos eleitores". Acrescentando que o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) é "a prova evidente disso".
Ulrich Eith lembra que a CDU é formada por três alas centrais: liberal, conservadora e a social-cristã. Com Kramp-Karrenbauer "não haverá mudanças fundamentais" nas políticas seguidas por Angela Merkel, defende.
"Apenas com um partido que consiga unir todas as fações, será possível conseguir representar o povo alemão", destaca o politólogo, realçando que "essa será a principal luta que AKK irá travar".
Um trabalho que se antecipa "difícil", depois das reações à primeira decisão tomada pela nova presidente da CDU.
"A tarefa de Annegret Kramp-Karrenbauer será reunir a CDU, trabalhar por uma plataforma política equilibrada e, assim, criar as condições necessárias para futuras vitórias eleitorais. Como primeira medida, ela nomeou o jovem Paul Ziemiak, um seguidor de Friedrich Merz, como secretário-geral do partido. As reações divididas mostram o trabalho duro que a nova líder vai ter de suportar", comenta o professor de Ciências Políticas da Universidade de Friburgo.
AKK foi escolhida na segunda volta, com 517 votos contra 482 de Friedrich Merz, um empresário multimilionário que defendia uma mudança de rumo no partido.
"Para conquistar os que não a votaram, ela deverá defender políticas que interessem às três alas do partido. Vai ter de intensificar a discussão intrapartidária e abrir o partido à cooperação. Promover uma cultura aberta ao debate e a discussão também é uma forma de atrair o eleitorado", esclarece Ulrich Eith.
A CDU perdeu votos nas últimas eleições gerais e regionais, principalmente para o partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD) e também para os "Verdes".
"Resolver problemas concretos em vez de usar slogans xenófobos e nacionalistas", é uma das medidas que, na opinião do politólogo Ulrich Eith, pode ajudar a reconquistar o eleitorado.
Annegret Kramp-Karrenbauer tem 56 anos e foi a primeira mulher a assumir o cargo de primeiro-ministro no estado federado do Sarre. Em fevereiro deste ano, foi escolhida pela chanceler, Angela Merkel, para secretária-geral da CDU. Uma decisão que foi acolhida por unanimidade. É, desde a sexta-feira passada, a nova líder dos democratas cristãos, depois de Merkel ter ocupado o cargo durante os últimos 18 anos.