\tA marginalização económica e social está na base de mais uma luta dos independentistas que, há praticamente um ano, deram início a uma série de protestos nas principais cidades anglófonas dos Camarões e que, face à repressão das forças de segurança, subiu de nível para degenerar em atos de violência..\tNas últimas semanas, ativistas anglófonos, fortemente armados, desencadearam uma série de ataques contra alvos militares e policiais, cuja resposta das autoridades locais está a levar a uma escalada da violência que já causou a morte a dezenas de civis..\tO mais recente caso aconteceu na segunda-feira, quando militantes da causa independentista abateram quatro polícias em Kembomg, na região de Manyu, no sudoeste do país situado em pleno Golfo do Biafra, com fronteiras com a Nigéria, Chade, República Centro-Africana, Guiné Equatorial, Gabão e República do Congo..\tO porta-voz do Governo camaronês, Issa Tchiroma Bakary, afirmou que, apesar do ataque de segunda-feira, os atos de violência dos separatistas são, atualmente, esporádicos, realizados em atos comummente utilizados na guerrilha urbana, face às medidas de segurança tomadas pelas autoridades de Yaoundé..\tManyu situa-se na densa floresta equatorial ao longo da fronteira com a Nigéria e tornou-se o centro da insurgência, a partir do qual se prepararam os ataques dos separatistas aos postos militares e policiais..\tA violência, apesar de não atingir as proporções de outros países africanos com conflitos armados, está igualmente a provocar uma crise de refugiados..Desde 01 de outubro deste ano, pelo menos 7.500 camaroneses residentes na região atravessaram a fronteira com a Nigéria e procuraram refúgio em pequenas localidades da região para escapar tanto aos ataques independentistas como às ações de repressão dos militares e da polícia..A data de 01 de outubro é a de referência, uma vez que foi nesse dia que os secessionistas declararam unilateralmente a independência da Ambazónia, tendo fontes das Nações Unidas indicado que os independentistas contam nas suas fileiras com mais de 40 mil apoiantes..A divisão linguística nos Camarões surgiu na sequência do final da Segunda Guerra Mundial, quando a até então colónia alemã foi assumida por dois dos países aliados vitoriosos do conflito -- França e Inglaterra..Em 1960, as regiões de língua inglesa, maioritariamente no sul, juntaram-se à República dos Camarões, do centro e norte, francófona, que domina desde então a política do país..A tensão entre as duas partes não é de hoje, pois há décadas que, a espaços, têm sido várias as tentativas de secessão no país de Paul Biya, 84 anos, há 35 no poder, e que já declarou publicamente a intenção de concorrer a um novo mandato nas eleições presidenciais de 2018, apoiado pelo partido que lidera, Movimento Democrático Popular dos Camarões (MDPC).