No dia em que o parlamento guineense retirou os poderes ao Presidente da República, José Ramos-Horta disse, em Lisboa, que subscreve as preocupações manifestadas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português sobre a crise política no país.."Guio-me pelas posições dos países da CPLP, em particular as preocupações manifestadas pelo MNE português. Subscrevo interiamente as declarações e preocupações de Portugal nesse sentido, que é o país que mais acompanha de perto a situação na Guiné-Bissau", disse hoje à Lusa Ramos Horta, em Lisboa, à margem do quinto encontro ministerial do g7+..Sobre a retirada dos poderes pelo parlamento ao Presidente cessante do país, José Mário Vaz, Ramos Horta, antigo chefe de Estado de Timor-Leste, reconhece que a Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau é "o órgão, neste momento, legítimo".."Foi eleito e é reconhecido internacionalmente. O Presidente da República chegou ao fim do seu mandato", referiu o timorense.."Alguns constitucionalistas dizem que a única entidade legítima para, interinamente, assumir as funções de Presidente é o Presidente da Assembleia Nacional, mas para além disso não posso comentar", acrescentou o antigo chefe de Estado..Ramos Horta, laureado com o Prémio Nobel da Paz em 1996 - em conjunto com o então bispo de Díli, Carlos Ximenes Belo -, considerou também que "o ónus parece estar completamente com o Presidente cessante da Guiné-Bissau"..O timorense acredita que a situação pode ser resolvida, através de parcerias com organizações como a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e com "os amigos da Guiné-Bissau"..A maioria dos deputados da Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau aprovou hoje uma resolução que determina a cessação imediata das funções constitucionais do Presidente da República e a sua substituição no cargo pelo presidente do parlamento. .A resolução que afasta José Mário Vaz, cujo mandato terminou no domingo, foi aprovada por 54 dos 102 deputados do parlamento, ou seja, os deputados do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), Assembleia do Povo Unido - Partido Democrático da Guiné-Bissau, União para a Mudança e Partido da Nova Democracia, que formam a maioria..A resolução mandata o presidente da Assembleia Nacional Popular (ANP), Cipriano Cassamá, a "tomar as disposições necessárias ao efetivo exercício das suas funções constitucionais"..A crise política continua assim na Guiné-Bissau depois de José Mário Vaz ter recusado por duas vezes nomear para o cargo de primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, presidente do PAIGC, partido mais votado nas eleições de 10 de março..O vencedor das eleições acabou por indicar Aristides Gomes, nome aceite pelo Presidente, que, no entanto, não nomeou o Governo indicado pelo novo primeiro-ministro até ao dia 23 de junho, dia em que terminou o seu mandato como chefe de Estado, violando assim o prazo estipulado pela CEDEAO para o fazer..A organização regional vai discutir a situação da Guiné-Bissau na cimeira de chefes de Estado e de Governo, que se realiza no sábado em Abuja, capital da Nigéria, e em que participam José Mário Vaz e o novo primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes..Domingos Simões Pereira, que acusou na quarta-feira José Mário Vaz de tentar realizar um golpe de Estado, com apoio do Senegal, para nomear um Governo de iniciativa presidencial, viajou para Nova Iorque para discutir a situação do país na Organização das Nações Unidas (ONU).