Em dezembro de 2018 o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, apresentou o Roteiro para a Neutralidade Carbónica, que implica o país conseguir, até 2050, remover (por exemplo através da floresta) todas as emissões de gases com efeito de estufa que produzir. .O roteiro, em consulta pública até ao fim de fevereiro, incide especialmente em áreas como a energia, a indústria ou os transportes mas também no setor agropecuário, com uma previsão de redução do efetivo bovino entre 25 e 50%. .Foi essa questão que levou PSD, CDS-PP e PCP a chamar João Pedro Matos Fernandes mas também o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, à comissão parlamentar de Agricultura, para darem explicações. .A medida, nas palavras dos deputados dos três partidos, vai prejudicar a agricultura e o mundo rural, num país que até é deficitário em carne bovina..Matos Fernandes lembrou que o roteiro resulta de compromissos assumidos por Portugal em 2016, e disse que na projeção de medidas se admitiu uma evolução da dieta alimentar para menos carne e mais vegetais, e opções tecnológicas mais limpas no setor.."A redução do efetivo de bovinos que muito tem vindo a ser discutida não é uma proposta mas sim um resultado dos cenários estabelecidos e que, saliento, são feitos para um horizonte de 30 anos", disse o ministro, acrescentando que os cenários "não configuram propostas de atuação"..A agricultura representa 10% das emissões de gases com efeito de estufa e destas 83% são da pecuária, lembrou, frisando que as metas apresentadas no roteiro "não são negociáveis" se o objetivo for um futuro neutro em carbono, que os agricultores são os primeiros a sentir os efeitos das alterações climáticas e que o setor ainda não fez propostas para o roteiro em consulta pública..Capoulas Santos disse também que enquanto ministro e enquanto cidadão está de acordo com as metas de descarbonização e relativizou a polémica, até por se tratar de uma quantidade reduzida de emissões de gases com efeito de estufa, comparando com outros setores..E disse ainda que o futuro do setor passará por melhorias genéticas, por melhores rações e menos emissões, e que se deve ver como conciliar a manutenção da atividade com a redução de gases. A agricultura já tem hoje "um forte desempenho ambiental", e "está em condições de contribuir para esse grande objetivo de metas de descarbonização", disse Capoulas Santos..Declarações que não convenceram os deputados do PSD, do CDS-PP e do PCP, com António Ventura, do PSD, a dizer que o Governo abandonou quem resiste e permanece no mundo rural, e com Patrícia Fonseca, do CDS-PP, a considerar que as palavras dos dois ministros não são coerentes. João Dias, do PCP, perguntou também que consequências terá a medida para o setor da transformação (matadouros, por exemplo)..Pedro Soares, do Bloco de Esquerda, e André Silva, do partido Pessoas-Animais-Natureza, estiveram do lado dos ministros, com o primeiro a criticar os que defendem as metas de descarbonização mas que querem que tudo fique na mesma.."Reduzir o assunto mais importante do mundo a uma questão bovina não faz sentido nenhum. Não é o ministro que vai obrigar à redução bovinos, e a própria redução da procura que o vai fazer", disse o deputado..E André Silva acrescentou que o roteiro é bem conseguido embora "tímido" e que os portugueses têm de ser esclarecidos sobre os malefícios da carne. E criticou "a cassete da destruição do mundo rural"..O longo debate sobre a matéria foi resumido pelo deputado Pedro Coelho, do PS, com a frase "tempestade num copo de água"..E Matos Fernandes ainda disse que a agricultura "é bem tratada" no roteiro. E que não consegue entender como é que se deseja um país carbonicamente neutro no qual a agricultura tem de ficar de fora, sendo a que menos tem de reduzir emissões e a que mais sofre os efeitos das alterações climáticas.