"Se o governo apoiar este pacto, será um governo no qual será impossível manter a nossa posição", afirmou o presidente da N-VA, Bart De Wever, numa entrevista ao canal de televisão francófono RTBF citada pelas agências internacionais.."Não apoiaremos um governo que vá a Marraquexe", advertiu o "número um" da N-VA, um dos pilares da coligação governamental belga desde outubro de 2014..Bart De Wever, que também é presidente da câmara de Antuérpia, referia-se à conferência intergovernamental que terá lugar na próxima semana (10 e 11 de dezembro) naquela cidade de Marrocos para adotar formalmente o Pacto Global para uma Migração Segura, Ordenada e Regular (GCM, na sigla em inglês), documento promovido pela ONU que pretende ser uma declaração de intenções para regular as migrações e para responder de forma mais eficaz aos desafios colocados pelos movimentos migratórios..Não vinculativo, o documento, o primeiro deste género sobre este assunto, tem como base um conjunto de princípios, como por exemplo a defesa dos direitos humanos, dos diretos das crianças migrantes ou o reconhecimento da soberania nacional, e enumera cerca de 20 propostas concretas para ajudar os países a lidarem com as migrações, nomeadamente ao nível da informação e da integração..O primeiro-ministro belga, o liberal Charles Michel, comprometeu-se a apoiar o pacto em setembro passado durante a intervenção no debate geral da 73.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas..Mas, nas últimas semanas, a N-VA tem exercido uma forte oposição ao texto, que é apoiado pelos outros três partidos que integram a coligação governamental belga (partido liberal francófono MR, os democratas-cristãos do CD&V e os liberais Open VLD). .Os nacionalistas flamengos argumentam, entre outros aspetos, que os juízes belgas poderão utilizar o pacto global para questionar a política de migração do governo e a sua vontade "de proibir a imigração ilegal"..Segundo vários politólogos, a N-VA pretende tornar a migração a principal questão da campanha para as eleições legislativas de maio de 2019 e teme a concorrência do partido flamengo Vlaams Belang (Interesse Flamengo, na tradução em português), uma força anti-migração que registou bons resultados na Flandres (norte da Bélgica) nas eleições regionais de outubro passado..O Vlaams Belang anunciou hoje que vai organizar no próximo sábado uma ação contra o pacto global para a migração, tendo convidado o ex-conselheiro de Donald Trump, Steve Bannon, e a líder do partido francês União Nacional (extrema-direita), Marine Le Pen..A queda do governo belga é "cada vez mais provável quando ouvimos as declarações de uns e de outros", referiu o professor de ciência política em Bruxelas, Dave Sinardet, em declarações a um canal de televisão..O primeiro-ministro Charles Michel já reconheceu que o seu governo atravessa um momento "difícil". .Estão programados para esta semana debates no parlamento belga, onde estarão presentes peritos e magistrados de forma a esclarecerem o governo sobre esta matéria..Vários países, incluindo os Estados Unidos, Hungria, República Checa, Áustria, Israel e Polónia, já afirmaram que não vão apoiar o pacto..Outros, como a Itália e a Suíça, adiaram uma eventual assinatura do pacto e remeteram uma decisão final após discussão do documento no parlamento..A ONU tem vindo a reiterar que este pacto não é juridicamente vinculativo, ou seja, não impõe obrigações a nenhum país..A organização também tem advertido que aqueles que optem por sair podem ver a sua credibilidade internacional debilitada.