"Onde homens mais razoáveis temiam legitimamente as consequências das suas decisões, ele não tinha grande pendor para a contemplação de consequências negativas -- fora assim toda a sua vida -- e não compreendia facilmente os outros", (página 269) escreve o autor.."O que determina a diferença, por fim, é que o líder esteja ou não certo (...) Ele teve razão", acrescenta McCarten, autor do argumento do filme "Darkest Hour" (2017) com o ator britânico Gary Oldman no papel de Winston Churchill. .O livro é fruto das investigações de Anthony McCarten e deu origem ao argumento do filme tratando sobretudo dos momentos "dramáticos" que marcaram o Reino Unido em 1940: entre o afastamento de Neville Chamberlanin de Downing Street, o confronto com Halifax, a tomada de posse de Winston Churchill como chefe do governo (10 de maio) até ao início da retirada das Forças Expedicionárias Britânicas de Dunquerque, no dia 04 de junho, durante a invasão da França pelo Exército nazi. .McCarten consultou os Arquivos Nacionais britânicos, nomeadamente os documentos do Almirantado, do Parlamento e do Gabinete de Guerra enfatizando a remota possibilidade de um eventual acordo de paz entre Londres e Berlim sob a mediação do ditador fascista italiano, Benito Mussolini já depois da invasão nazi da Polónia (01 de setembro de 1939), Checoslováquia, Dinamarca e Noruega.."Muitos leitores ficarão surpreendidos ao saber que o grande Winston Churchill, apresentado à História como inimigo empenhado e inabalável de Hitler, disse aos seus colegas do Gabinete de Guerra que, em princípio, não se oporia a conversações de paz com a Alemanha se 'Herr Hitler estivesse preparado para acordar a paz com as condições de restituição das colónias alemãs e a suserania sobre a Europa Central", escreve McCarten que também escreveu o argumento do filme "A Teoria de Tudo"..Apesar dos aspetos relacionados com a vida de Churchill antes da tomada de posse em 1940 e dos enquadramentos históricos e políticos o livro "A Hora Mais Negra" detalha os quatro famosos discursos do primeiro-ministro proferidos publicamente no Parlamento - principalmente o apelo à resistência e ao combate que marca o discurso da retirada de Dunquerque - e que em poucas semanas contribuiram para mudar o curso do conflito através do empenho dos britânicos contra o nazismo. ."Churchill recorre aqui habilmente a dois dispositivos retóricos essenciais, ambos repescados da Antiguidade. Um é a anacenose, uma figura de estilo em que é feito um apelo aos ouvintes ou aos opositores à manifestação da sua opinião. Ele usa-o em 'Perguntam-me: qual é a nossa política' atraindo os que o ouvem para a sua dramatização", (página 139) refere McCarten.."O outro dispositivo é a anáfora, a repetição de uma palavra ou palavras no início de um ou mais versos, preposições ou frases sucessivas", indica o argumentista recordando o uso sucessivo do verbo "combater" ou da palavra "vitória", neste caso, utilizada cinco vezes numa única frase..McCarten sublinha também que em contraste com os discursos "egocêntricos" de Hitler que "enfatizava a palavra 'eu'", Churchill conhecia o poder do "Nós".."Um é democrático e bom, o outro totalitário e absolutamente maligno (...) As frases anglo-saxónicas, curtas e simples, surgiam em bombardeamentos de pronomes plurais", escreve o autor do livro sobre o ano 1940, a ascensão de Winston Churchill e as posições de Londres contra a Alemanha nazi..O livro "A Hora Mais Negra -- Como Churchill salvou a Inglaterra" (Objectiva, 310 páginas) de Anthony McCarten inclui fotografias e foi traduzido para português por Manuel Santos Marques.