O ex-ministro do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, do XVII Governo Constitucional liderado por José Sócrates, esteve hoje à tarde a ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito ao pagamento de rendas excessivas aos produtores de eletricidade e trouxe uma visão completamente distinta das anteriores audições naquilo que diz respeito ao domínio hídrico.."A palavra extensão [da concessão das barragens à EDP] é uma palavra que me surpreendeu quando a ouvi dita por várias pessoas, várias entidades, várias declarações, porque não é esse o filme que eu tenho do processo. O filme que eu tenho do processo é que houve uma limitação temporal. É surpreendente. É quase o contrário, embora eu compreenda porque é que se gera esse mal-entendido", disse..Francisco Nunes Correia insistiu, ao longo de toda a audição e perante a contraposição dos deputados, que não se pode falar de extensão em relação aos contratos de 27 barragens da EDP, decididos em 2007, explicando que é preciso dar um "passo atrás", aos anos 70, quando aconteceu a nacionalização da elétrica e as concessões que estavam em vigor ficaram com um prazo indeterminado.."Se havia um prazo indefinido e de repente passou a haver um prazo, chama-se a isso extensão ou chama-se a isso uma delimitação? Eu chamo a isso uma delimitação", respondeu ao deputado do PSD Cristóvão Norte, deixando claro que se trata do "mal-entendido basilar por trás disto"..O antigo ministro do Ambiente foi perentório: "Não houve uma extensão, houve um retomar dos prazos anteriores. Apenas isso. Foi limitado, não foi prolongado".."Quando se reestabelece um prazo não se está a fazer uma extensão, está-se a fazer uma delimitação. Parece-me um dos mal-entendidos maiores aos meus olhos, do filme que eu tenho do Ministério do Ambiente, daquilo que eu tenho visto nas notícias dos jornais sobre esta questão", criticou..A sua preocupação enquanto ministro foi relativa "às taxas de recursos hídricos", explicou aos deputados.."A EDP não é nem mais nem menos do que os outros. E vai pagar. E pagou e julgo que foi muito bem utilizado nos projetos da Polis Litoral", lembrou..Sobre se esta era a avaliação partilhada pelo restante Governo, Nunes Correia afirmou que a memória que tem "é que quando foi posto em cima da mesa que a EDP tinha de pagar uma taxa de recursos hídricos pelo período em que ia utilizar o domínio hídrico, isso causou estupefação e uma certa contrariedade do próprio setor que tutela a energia".."Admito que houve uma surpresa inicial", insistiu, mas garantiu que esta foi cobrada em "total sintonia com o Ministério das Finanças que reservou esse dinheiro para utilizar no Polis do Litoral"..Sobre o porquê de a EDP ter pagado mais de 700 milhões de euros para beneficiar de algo que já tinha direito, o antigo ministro do Ambiente explicou que "uma coisa é ter direito, outra coisa é pagar uma renda pela exploração de um bem". ."Mas isso são contas que a energia saberá explicar melhor", disse apenas, remetendo, assim, para o ministério então liderado por Manuel Pinho.