"O relatório só veio demonstrar o quanto, ao longo destes anos, de facto, o país não se soube preparar para esta possibilidade", disse hoje o autarca social-democrata à agência Lusa..Segundo Luís Tadeu, no relatório são apontadas "falhas gravíssimas por parte da estrutura de Proteção Civil nacional" que se verificaram "cabal e plenamente no terreno naqueles fatídicos dias de 15 e 16 de outubro"..Essas falhas "já antes se verificavam de alguma forma, também noutros incêndios" que não tiveram a dimensão destes, mas que "já se notava alguma situação de alguma descoordenação", disse à Lusa.."Este relatório, de alguma forma, vem pôr o problema nos pontos principais", admite ainda o presidente do município de Gouveia, na Serra da Estrela, distrito da Guarda..Na opinião de Luís Tadeu, Portugal também não se preparou "em termos daquilo que devia ser a prevenção, em termos de limpeza de matos, em termos de limpeza de terrenos"..O concelho de Gouveia foi atingido pelos incêndios, mas o autarca sublinha que a situação verificada "não foi por falta de informação", pois "todos os anos" têm sido feitas ações de sensibilização com a população, com a colaboração da GNR e da PSP e das corporações de bombeiros locais..Luís Tadeu diz ainda ter dúvidas sobre se as medidas que estão a ser tomadas são as mais adequadas, "não só na sua forma", como "nos seus termos e no tempo", temendo que se tenha começado "outra vez, um bocado, a 'empurrar com a barriga'".."Hoje em dia, muitos concelhos têm imensas áreas ardidas e, portanto, dificilmente vão ter algum incêndio com alguma grande dimensão", observou..O autarca de Gouveia referiu também que nos concelhos do interior existe o "problema grave" de muitos terrenos pertencerem a heranças e de os herdeiros residirem fora da região e do país e "isso tem provocado dificuldades de acesso à informação sobre quem são os proprietários"..Esta situação "vai originar problemas" e "vai conduzir a despesas" que vão ser assumidas pelos municípios, alerta o responsável..A comissão técnica independente criada para analisar os grandes incêndios rurais de 2017 entregou no dia 20 de março no parlamento o relatório dos fogos de outubro (dias 14, 15 e 16), envolvendo oito distritos das regiões Centro (Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda, Leiria e Viseu) e Norte (Braga e Viana do Castelo)..Falhas na programação do socorro e na rede de comunicações e um "dramático abandono" das populações foram identificados pela comissão técnica, que admite, contudo, uma conjugação singular de fatores meteorológicos..Estes incêndios provocaram a morte a 49 pessoas.