Estudo inédito quer caracterizar zonas de berçário de tubarões em Cabo Verde

Um investigador da Universidade de Lisboa está a estudar a existência de zonas de berçário de tubarões na ilha da Boavista, em Cabo Verde, fenómeno que ainda não tinha sido documentado no Atlântico Este.
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As zonas de berçário de tubarões não são muito conhecidas mundialmente, principalmente nesta zona, estando mais descritas no Atlântico Oeste, junto às Caraíbas ou ao Brasil, explicou à Lusa o coordenador do projeto, Rui Rosa, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

"Neste momento estamos a estudar os recém nascidos, nós não sabemos de onde vêm os progenitores, sabemos é que estas populações vão lá para utilizar esta área como berçário", adiantou, sublinhando que já foram ali observados juvenis de tubarões-martelo e de pontas pretas.

Quando atingem uma certa maturidade, os tubarões deixam estas zonas de berçário e vão para outros locais, já que se tratam de espécies "muito cosmopolitas", observou o investigador, acrescentando que a maioria destas espécies "são costeiras, oceânicas e estão por todo o lado".

Segundo Rui Rosa, em certas alturas do ano conseguem apanhar-se, por hora, 300 tubarões de pontas pretas, com aproximadamente 40 centímetros, não havendo "registo de valores tão elevados de juvenis, até a nível mundial", o que demonstra que a abundência de juvenis é "extremamente elevada".

Numa primeira fase, a equipa, que trabalha com alunos no terreno e o apoio de pescadores locais, quer caracterizar aquele que é considerado o primeiro berçário de tubarões no Atlântico Este, para depois a área poder vir a ser conservada.

"O objetivo do estudo é depois fornecer esta base de dados às entidades de Cabo Verde para se tentar gerir esta área, que deve ser conservada, o que poderia passar, por exemplo, pela criação de uma área de proteção", indicou o investigador.

O projeto, que começou em agosto de 2016 pode depois evoluir para um estudo mais aprofundado sobre a origem dos progenitores e a sua distribuição, com recurso a técnicas ligadas à biologia molecular e genética, acrescentou.

Contudo, Rui Rosa só vai divulgar os dados que começou a recolher há um ano e meio ao fim de três anos, para haver "um estudo sólido e com uma variabilidade sazonal bem consolidada" e porque a zona de África "nunca tinha sido muito estudada".

O projeto incide apenas na ilha da Boavista, mas Rui Rosa pensa que não é caso único em Cabo Verde, devendo haver mais ilhas no arquipélago também com zonas de berçário de tubarões.

O estudo é financiado pela PADI International, empresa ligada ao mergulho científico com preocupações ambientais e conservação dos recursos.

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