O docente universitário, estudioso da geopolítica e geoestratégia, declarou à agência Lusa que com base na documentação que era secreta e tem vindo a ser divulgada pelos Estados Unidos, nos últimos anos, a que teve acesso, Washington "poderia ter essa visão", mas "oficialmente nunca a manifestou"..A 06 de junho de 1975, uma manifestação reuniu cerca de 10 mil pessoas, predominantemente lavradores, que se batiam por diversas reivindicações e se juntaram contra o regime que vigorava em Lisboa. .A concentração acabou por ficar conotada com a defesa da independência dos Açores e com a FLA -- Frente de Libertação dos Açores, cujo fundador e líder histórico, José de Almeida, faleceu a 01 de dezembro de 2014..Luís Andrade, professor catedrático de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade dos Açores diz que, na altura, tanto o embaixador norte-americano em Lisboa, Frank Carlucci, como o Consulado dos Estados Unidos em Ponta Delgada "nunca admitiram" a perspetiva de uma independência dos Açores..Contudo, o docente salvaguarda que "se a situação se tivesse deteriorado e houvesse uma enorme imprevisibilidade e instabilidade" no Governo central, sobretudo no verão de 1975, era "muito possível" que os norte-americanos apoiassem a independência..Citando Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, que escreveu que Portugal estava perdido para o comunismo no denominado "verão quente", Luís Andrade refere que "não se pode dizer claramente que os Estados Unidos queriam ocupar as ilhas dos Açores se a situação se complicasse a nível nacional", mas não se admira "absolutamente nada que se tenha pensado seriamente no assunto". .O docente universitário admite que "houve alguns contatos" do líder da FLA com "várias entidades americanas", visando a independência dos Açores, mas "ao nível mais elevado da administração norte-americana", o responsável "nunca foi recebido". .Tendo a necessidade de salvaguardar a Base das Lajes, o especialista refere que os norte-americanos "jogaram com os dois lados, com o governo português, mantendo uma relação mínima, não quebrando o relacionamento, por um lado, mas atentos à situação nos Açores, por outro", declara Luís Andrade..De acordo com documentos secretos norte-americanos que foram entretanto divulgados publicamente, Washington - que deu indicações aos seus militares para defenderem a Base das Lajes a tiro, se necessário - tinha vários cenários previstos para os Açores, o primeiro dos quais apontava por manter a sua neutralidade, não informando o governo português sobre as atividades separatistas e possível ataque, e dizendo à FLA que não se iriam envolver..Entretanto, o ex-presidente da Assembleia da República e do Governo dos Açores Mota Amaral foi o responsável pelas linhas programáticas da FLA, segundo disse à agência Lusa o dirigente do movimento independentista José Ventura.."Mota Amaral teve uma altura em que se dirigiu a mim e eu escrevi à máquina os princípios do movimento", garantiu José Ventura..José Ventura explicou que depois de ter datilografado as palavras de Mota Amaral, os princípios programáticos da FLA "foram distribuídos num dia à noite, em caixotes de peças de automóveis", pelas diferentes ilhas..A FLA é um movimento independentista fundado após a revolução do 25 de abril de 1974.