A obra, que passou pelo festival de Locarno, em estreia mundial, é a primeira longa-metragem de Dídio Pestana, que começou a filmar em Super 8 em 2011, trabalhando com uma sonoplastia acrescentada posteriormente..A apresentação do filme no festival, assinada pelo diretor, Daniel Ribas, destaca a obra como um "registo terno sobre a vida, sobre as suas contradições, falhanços e momentos felizes", num "tom muito pessoal" que a película reforça no "ar de nostalgia".."Mostra como a memória é um passado distante, do qual teremos sempre saudades", pode ler-se..Em entrevista à Lusa, Pestana mostra-se "curioso e na expectativa" por apresentar o filme no Porto, uma vez que vários amigos que aparecem são portuenses, mas também por ser um público "mais distante do contexto" de Berlim, cidade em que reside.."Interessa-me muito perceber como é que as pessoas vão vê-lo e sentir o filme, e também a questão da voz, que eu gravei. É diferente ouvir a minha voz e não estar a ler as legendas", apontou..O caráter pessoal está muito patente num filme que parte e explora várias relações amorosas e de amizade do realizador, frequente colaborador de Gonçalo Tocha, como em "É Na Terra não é na Lua", outro filme estrado em Locarno, embora a intimidade não 'assuste' Pestana.."Continuo a não sentir o filme como uma exposição excessiva, apesar de me expor, de alguma maneira. A partir de Locarno, e de outros festivais onde o exibi, tem sido muito interessante, com várias conversas com pessoas que se relacionam. (...) Eu não queria fazer um filme só para o meu ego, é para as pessoas e para ser visto, e tive muito cuidado com isso ao montar", explicou..Apesar de ter filmado durante oito anos de forma solta, a intenção "já era a de fazer um filme", num trabalho sobre duas temáticas pessoais. "A questão do meu pai e da sua morte, explorando a família e a relação com a distância, e depois a questão do amor", afirma..As filmagens acabaram por tomar um rumo orgânico que foi transfigurando o conceito, "porque também se filmaram coisas relacionadas com trabalho, amizades e viagens", seguindo-se o trabalho de montagem, que assentou em várias camadas..O áudio, por exemplo de um festival em Berlim, foi gravado em alturas diferentes do vídeo, por vezes em mais do que uma edição, num processo que aparenta ser cronológico, ao ver a obra, mas "não é bem"..Editou o filme com Rui Ribeiro e a exploração da memória também passa por esse "reflexo da memória" e da sua "não localização temporal das coisas". "O Super 8 tem logo esse efeito, parece logo antigo. No som, fui buscar muito material do meu arquivo pessoal, como vinis dos anos 1960", revelou..As várias camadas pretendem "não só tirar o tempo às coisas" como também "misturar no trabalho de som a questão do espaço", num ofício "quase de colecionador" que tornou a montagem numa "catalogação de eventos, pessoas, sítios"..Depois da exibição no Cinema Trindade, pelas 21:45 de hoje, "Sobre Tudo Sobre Nada" é reposto no Teatro Municipal Rivoli, pelas 16:00 de sexta-feira.