A 4.ª edição do Porto/Post/Doc, que terá um foco "no arquivo e na pós-memória", decorre de 27 de novembro a 03 de dezembro, no Teatro Rivoli e no Passos Manuel. A programação completa é apresentada na terça-feira, mas um dos responsáveis de "Não consegues criar o mundo duas vezes", Francisco Noronha, contou à Lusa que o filme faz parte da programação do festival.."Não consegues criar o mundo duas vezes", de acordo Francisco Noronha, "além de ser sobre a história de uma expressão artística e de um movimento cultural no Porto do final dos anos 1980/90 até hoje, acaba por ser também sobre a história de uma cidade"..Francisco Noronha e Catarina David começaram a preparar o documentário em março do ano passado. Além de trabalharem juntos, são "amigos há muito tempo" e um dos pontos que têm em comum é "o gosto pela música e em concreto pelo rap". . "Focámo-nos mais em falar com as pessoas envolvidas na história, para [a] contarem", referiu Catarina David. Para complementar as entrevistas, têm imagens "filmadas nos dias de hoje" e material de arquivo, "muito cedido pelos artistas" com quem falaram..Os dois recolheram testemunhos de bandas e rappers como Reunião das Raças, "uma das bandas mais características do início do rap no Porto", Dealema (Maze, Mundo, Expeão, Fuse e Guze), Mind da Gap (Ace, Presto e Serial), L.C.R. (Nocas e Berna), Triângulo Dourado, Conjunto Corona (dB e Logos), Capicua, M7, Virtus, Deau e Minus. "Muitos deles já nem estão ativos atualmente", referiram..Da cidade mostram espaços que acharam "pertinentes" ou dos quais os rappers falaram "como importantes para a história do rap"..Um dos "pontos fundamentais" fica do outro lado do rio Douro: Vila Nova de Gaia. "Porto e Gaia são irmãos gémeos nesse sentido. Há grupos que têm artistas das duas margens, caso dos Dealema", referiu Francisco..Em Gaia, Francisco e Catarina destacam a estação de comboios de General Torres, "onde paravam muitos miúdos que dançavam, faziam 'breakdance', começavam a rimar, faziam os primeiros graffiti" e o Hard Club, que inicialmente se situava em Gaia, "local importante para o hip-hop (movimento que inclui o rap, o 'breakdance' e o graffiti), com festas e concertos"..Aldoar, "onde se criou uma 'crew' [grupo] muito importante" é também "um dos pontos fundamentais" da história do rap na cidade..Também Matosinhos, "um ponto de origem onde tudo começa paralelamente com Gaia e onde havia o Cais 447 [bar/discoteca]" e a Maia estão entre os locais considerados importantes.."O Porto é o centro, mas com as periferias muito ativas", disse Francisco..O festival Porto/Post/Doc, que tem direção de Dario Oliveira, Daniel Ribas e Sérgio Gomes, regressa ao Teatro Rivoli e ao Passos Manuel com um programa específico, criado em parceria com o Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, para exibir "filmes recentes que utilizam material de arquivo, aprofundando um debate sobre a memória e sobre o passado"..Além da utilização de material de arquivo como "meio de produção de novas narrativas documentais", o programa centra-se ainda "na utilização do arquivo como meio de ativar uma pós-memória, isto é, uma análise crítica feita por novos realizadores que não presenciaram os factos de que se ocupam"..O ciclo será uma parceria com o projeto do CES intitulado "Memoirs: Filhos de Império e pós-memórias europeias", e tem como filmes já confirmados "Ejercicios de memoria", da paraguaia Paz Encina, "Cuatreros", da argentina Albertina Carri..O festival terá mais de 70 sessões de cinema, nas quais serão apresentados cerca de cem filmes, cinco concertos, sete festas, quatro aulas de cinema e 15 sessões para escolas.