Na sua investigação, o biólogo Bruno Carreira chegou à conclusão de que o calor é uma faca de dois gumes para este lagostim, que pode proliferar ainda mais com picos de calor curtos mas definhar com ondas de calor mais longas..A "invasão" do lagostim vermelho começou nos rios portugueses em 1979, depois de alguns animais terem escapado acidentalmente de aquaculturas em Espanha para o sul de Portugal..Colonizaram as bacias do Sado e do Tejo e hoje espalham-se por todo o território português, aproveitando as zonas húmidas, particularmente os terrenos pantanosos onde se cultiva arroz..Os danos ecológicos manifestam-se com a voracidade do lagostim, que se reproduz depressa e em grande número, fazendo diminuir a biodiversidade e a oxigenação da água..O lagostim consegue escavar o leito dos rios para se esconder, podendo cavar túneis com dois metros de profundidade, torna a água mais turva, com o aumento do calor consome mais vegetação, acabando com lugares de esconderijo e postura de ovos de anfíbios..Com o calor, o lagostim aumenta o consumo de plantas e ataca as plantações de arroz, trazendo danos económicos..Ao contrário de Espanha, que liberalizou a apanha de lagostim, permitindo aos agricultores compensar de certa forma as perdas de arrozal, em Portugal o comércio não foi liberalizado..Trata-se de "uma espécie chave", com influência em vários níveis da cadeia alimentar, tanto como predador como presa: pelo caminho foram exterminando os lagostins autóctones, menos fortes, e servem de alimento para as lontras, que no resto da Europa estão ameaçadas, mas que em Portugal têm marisco em abundância..Na investigação conduzida no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Bruno Carreira testou ondas de calor breves e prolongadas, e verificou que as breves favorecem a reprodução do lagostim, que não consegue funcionar em temperaturas abaixo dos dez graus..No entanto, quando as ondas de calor se prolongam, as populações de lagostim perdem peso e não conseguem suportar o 'stress' prolongado de alterações climáticas mais severas..Em relação à hipótese de controlar a expansão da espécie, Bruno Carreira afirma que é impossível, pelos números que já atingiu..Apesar de haver tanta quantidade de lagostins em Portugal, o seu consumo não aumentou por várias razões, principalmente o sabor forte, provocado pela dieta própria de um animal que sobrevive em águas pantanosas.."Tem que ser muito temperado para esconder o sabor 'lamacento'", referiu Bruno Carreira, apontando que a qualidade do marisco português não se lhe compara.