Colocar o achado - inserido num terreno privado do grupo Fortera - totalmente "a descoberto" poderá demorar vários anos, mas já se sabe que este será aberto ao público. No terreno, com vista para o rio Douro, irá nascer um empreendimento de grande escala, com mais de 45 mil metros quadrados de área de habitação. Em declarações ao DN, o arquiteto responsável pelo projeto, Hélder Agostinho, explica a importância da preservação do achado, que será incluído na planta. "Segundo o relatório arqueológico, trata-se de algo único e de grande importância, tendo sido encontrados vestígios arqueológicos de vários períodos, destacando-se o que se pensa tratar de uma basílica e necrópole associada que terão estado ativas durante período de antiguidade clássica e tardia", conta..O grupo Fortera adquiriu o terreno em 2020, altura em que se apercebeu das "condicionantes no processo do loteamento em câmara que indicavam a realização de sondagens arqueológicas no terreno". Segundo Hélder Agostinho, o processo tinha sido interrompido, em 2008, por insolvência do fundo imobiliário (anterior proprietário) que promoveu o loteamento, e acabou por nunca ter sido produzido o relatório final". A empresa decidiu, então, recorrer aos serviços da Empatia, à qual solicitou "um relatório sobre os achados", e, nessa ocasião, percebeu a importância dos mesmos. "Também percebemos é que a perspetiva é que seja algo bem mais amplo do que as sondagens que foram agora realizadas e que estava associado à ocupação em torno da zona conhecida como Castelo de Gaia", explica..O grupo Fortera juntou-se à Câmara Municipal de Gaia para analisar "a hipótese de libertar esta zona do terreno para retomar as sondagens arqueológicas e alargar o seu âmbito". "Será um processo longo, mas o objetivo final é que possa ser visitável pelos cidadãos de Gaia e restante área metropolitana, que podem encontrar ali algo que faz parte da sua história e raízes. Neste momento, o interesse poderá passar por os terrenos se tornarem de domínio público. Mas nada está decidido ou definido. Passará sempre pela abertura ao público das mesmas", afirma Hélder Agostinho..A construção ainda não arrancou e o projeto encontra-se em fase de estudo de uma alteração ao alvará de loteamento que salvaguarde não apenas o terreno dos achados mas também os terrenos imediatamente contíguos, transferindo a capacidade construtiva para os restantes lotes.."Vai ser alterado, sendo vontade tanto nossa como da câmara. Trará uma mais-valia cultural a Gaia e mesmo até ao empreendimento, mas ainda estamos a analisar a forma de o concretizar", adianta Hélder Agostinho..O objetivo do grupo Fortera é poder arrancar com a construção do empreendimento entre finais de 2021 e inícios de 2022, ao longo de várias fases..Já os trabalhos de arqueologia serão retomados "logo que for possível e se consiga definir o loteamento e as responsabilidades". "É um trabalho minucioso e de cuidado extremo e que poderá demorar alguns anos até se poder pôr tudo a descoberto, estudar e inventariar, assim como criar condições para que possa ser visitado. Não é possível, neste momento, ter uma noção concreta, pois mesmo esta descoberta foi inesperada e não se pensava que algo assim existisse aqui. Não se sabe que mais será possível encontrar", conclui o arquiteto..Manuel, morador na zona do Candal há 60 anos, diz-se "ansioso" por ver ali nascer um empreendimento. "Há aqui muitos terrenos que foram sendo vendidos e que pararam os projetos. O que queremos é ver o Candal a ganhar vida e ter toda esta zona limpa", afirma. Acrescenta que "um dos terrenos contíguo ao do achado foi vendido há mais de 10 anos", tendo-se mantido por limpar desde então. "Correram com os caseiros porque ia nascer ali algo grande, mas está tudo na mesma e com construções antigas em risco de ruir. Eu sou a favor do progresso e ter grupos grandes a investir é bom para os moradores e para a zona. É das zonas mais bonitas de Gaia, com uma vista para o rio Douro aberta e linda", refere..Nos últimos anos, Manuel diz ter afastado várias pessoas do local do achado, com medo de ver o sítio arqueológico vandalizado. "Fui eu até, há uns anos, que fiz uma estrutura para impedir a entrada de gente que não vem fazer coisa boa", conta, orgulhoso, sublinhando que a história local tem de ser preservada, ainda que abrindo portas ao progresso.