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24 janeiro 2023 às 10h07

Parque de campismo da Ericeira fecha para obras e utentes têm de retirar equipamentos até abril

Existem 35 casos de residentes em permanência no parque, algo que, segundo a autarquia, é proibido.

Lusa/DN

O Parque de Campismo da Ericeira, no concelho de Mafra, vai encerrar para obras até ao verão e os utentes têm até ao final de abril para retirar os equipamentos, mas o prazo é contestado pelos utilizadores.

Em 06 de janeiro, a Câmara de Mafra, no distrito de Lisboa, informou que os utilizadores, com tendas, caravanas, 'mobilehomes' ou outros, teriam de retirar os bens até ao final de fevereiro, para o parque encerrar em março para obras.

Só uma semana depois, os utentes foram notificados por carta registada.

Contudo, numa reunião realizada na quinta-feira entre a autarquia e o advogado que representa meia centena de utentes, o prazo para a retirada dos equipamentos foi alargado até ao final de abril.

Contactada pela Lusa, a Câmara de Mafra esclareceu que os espaços do parque não podem ser usados para residência permanente, salientando que os utentes que precisem de apoio terão de dirigir-se aos serviços de Ação Social do município.

A Câmara de Mafra referiu ainda que o prazo legal para remoção dos equipamentos seria 15 dias, mas mostrou-se disponível para, em "situações devidamente fundamentadas" e analisadas caso a caso, "equacionar uma eventual prorrogação do prazo", sem, contudo, dar locais alternativos para o seu armazenamento.

Apesar da posição da Câmara de Mafra, Thaís Oliveira, jovem solteira grávida de cinco meses a viver desde novembro em permanência na rulote que tem no parque de campismo na Ericeira, disse à agência Lusa não ter alternativa para morar, nem local para onde levar o equipamento.

"É um prazo impossível, quer para conseguir encontrar casa, porque já andava à procura desde dezembro, uma vez que não queria ter o meu filho numa rulote, quer para tirar o material do parque", afirmou.

Thaís Oliveira disse ainda ter sido "completamente surpreendida" quando, em meados deste mês, foi informada de que tinha de deixar de pernoitar no parque até 12 de fevereiro.

"A minha situação já não era fácil, porque vim morar para o parque em novembro, quando soube que estava grávida. Separei-me do meu companheiro e estou com gravidez de risco, mas tinha uma casa e neste momento não tenho", queixou-se, acrescentando não ter "meios para pagar uma renda de casa".

Thaís Oliveira disse ainda que, apesar dos contactos que tem tido com os serviços de Ação Social da Câmara Municipal de Mafra e com a Segurança Social, continua sem solução para o seu problema.

Segundo Rui Cortez, advogado que representa meia centena de utentes e que inicialmente solicitou à câmara para alargar o prazo de pernoita até final de fevereiro, existem 35 casos de residentes em permanência no parque.

Eunice Lopes investiu 35 mil euros numa casa pré-fabricada de madeira ('mobilehome') em julho de 2021 para passar férias e fins de semana e disse à Lusa sentir-se "enganada" por ter feito o investimento e, agora, ter sido notificada para sair.

"Não consigo em pouco tempo tirar a casa dali, porque moro num apartamento e não tenho espaço para a colocar e, como terei de gastar mais de dois mil euros para transportá-la do parque, tenho de encontrar um local definitivo para a instalar", contou.

"Tratem-nos com dignidade e deem-nos seis meses ou um ano para orientarmos a nossa vida, porque não posso atrelar a casa ao carro e tenho de gastar mais de dois mil euros para transportar a casa do parque", pediu também indignada Helena Calheiros, com uma 'mobilehome' onde, desde junho de 2021, passa fins de semana e férias.

Tal como Eunice Lopes, também esta utente disse viver num apartamento e não ter espaço para "pôr o material".

Segundo a Câmara de Mafra, as obras visam requalificar o parque de campismo, cuja reabertura está prevista para junho, e criar o Parque Verde Urbano da Ericeira.